Genocídio

Relatório mostra aumento da violência contra povos indígenas no Brasil

Conselho Indigenista Missionário (Cimi) diz que governos Temer e Bolsonaro se colocaram a serviço de madeireiros, mineradores e grileiros ao fragilizar órgãos de proteção

Tiago Miotto/Cimi
Tiago Miotto/Cimi
Assassinatos e invasões aos territórios indígenas se espalham por todo país e governo Bolsonaro finge não ver

São Paulo – O relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil – dados de 2018, divulgado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), lançado nesta terça-feira (24), em Brasília, revela uma forte ofensiva contra os povos originários, com aumento de invasões, grilagem, garimpo ilegal e roubo de madeiras. Além do congelamento dos processos de demarcação, o órgão destaca a “permissividade” do Poder Público – que se iniciou no governo Temer e tem se agravado na presidência de Jair Bolsonaro – em relação aos crimes cometidos contra os indígenas

Segundo o relatório, em 2018, foram 109 casos de “invasões possessórias de exploração ilegal de recursos naturais”, frente a 96 casos registrados no ano anterior. O documento também traz “dados preliminares” de 2019, e somente nos nove primeiros meses deste ano, foram 160 casos de invasões. Em 2018, 135 indígenas foram assassinados, frente a 110 no ano anterior. O relatório também aponta a ocorrência de 100 casos de suicídio entre as populações indígenas.

“Houve uma espécie de liberalização do Estado para que as áreas indígenas viessem a ser exploradas de forma criminosa. Ou seja, por meio de discursos do próprio governo da época e, como consequência, do governo atual, parece que o Estado se colocou a serviço de todos aqueles que têm interesse na exploração minerária, garimpeira e madeireira para que pudessem ter acesso às áreas indígenas”, afirmou o coordenador do Cimi Regional Sul, Roberto Liebgott, à jornalista Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual nesta quinta-feira (26).

Essa “liberalização”, segundo ele, se traduz na fragilização dos órgãos de controle, fiscalização e proteção dos territórios indígenas e das unidades de conservação. Liebgott destacou que as invasões estão se espraiando. No ano passado, elas ocorreram em  76 terras indígenas diferentes, distribuídas em 13 estados do país. Em 2019, são 153 os territórios afetados, em 19 estados do Brasil.

Devastação sem precedentes

Além de se espalharem por todo o território, o processo de invasão também se tornou mais agressivo. “Havia uma forma de invasão, onde se retirava madeira e minérios, mas não se fazia o que, neste contexto atual, os setores que exploram as terras indígenas fazem, que são as queimadas. Além de retirar a madeira, passaram a atear fogo em tudo, causando uma devastação sem precedentes.”

Ele diz que, além de toda a devastação ambiental, as invasões aos territórios indígenas expõem as populações a uma série de violências. “A violência física, os ataques, as ameaças, prostituição, doenças. Enfim, um conjunto de ações que, no nosso modo de entender, caracteriza uma prática genocida do Estado brasileiro.”

Além da ocupação ilegal dos seus territórios, os indígenas vêm sofrendo com o confinamento em terras indígenas. Liebgott destaca a Terra Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde vivem aproximadamente 13 mil indígenas numa área de menos de 3.500 hectares. Em regiões superpovoadas, imprensados entre as cercas das fazendas e o asfalto das rodovias, a incidência do suicídio é ainda maior, principalmente entre os jovens. Também são vítimas de atropelamento, e até mesmo a violência entre eles é maior, por conta da disputa por áreas de plantio.

“A gente percebe que a juventude indígena passa por esse momento desafiador na busca de perspectivas para se manterem nos seus territórios. A força opressora é intensa, procurando desterritorializar os indígenas, levando-os a se aproximar cada vez mais da sociedade urbana, do consumo, dos vícios”, explica o coordenador do Cimi.

Ouça a entrevista na Rádio Brasil Atual