reincidência

Caso de rapaz chicoteado e torturado não foi o primeiro no supermercado Ricoy

Novas imagens mostram outro homem amarrado e com marcas de agressões no mesmo estabelecimento

GOOGLE STREET VIEW/BRASIL DE FATO
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Imagens recebidas pelo Brasil de Fato mostra a vítima, com o rosto machucado, encostado em uma estrutura com o logotipo do Ricoy

São Paulo – O jovem de 17 anos chicoteado por seguranças da rede Ricoy Supermercados, na zona sul da cidade de São Paulo, não foi a única vítima do estabelecimento. De acordo com imagens obtidas pelo Brasil de Fato, um outro homem foi amarrado pelos agentes e possui marcas de chicotadas, após tentar furtar alimentos e itens básicos de higiene. As fotos mostram o rapaz com o rosto machucado, encostado em uma estrutura com o logotipo do Ricoy. A reportagem não cita quando ocorreu o episódio de tortura.

O Brasil de Fato também recebeu um vídeo em que um funcionário do supermercado tortura psicologicamente uma criança. “Você vai ficar em uma cela cheio de moleques da sua idade, ou mais velho, tem uns lá que gostam de abusar de outro moleque. Olha que legal. Tem uns que vão te dar uma surra bem dada. Olha que legal”, diz o funcionário do comércio ao garoto que supostamente havia tentado praticar roubo.

O caso do jovem de 17 anos, divulgado nesta última segunda-feira (2), ocorreu em julho, mas não foi denunciado à época pelo adolescente por medo de retaliações. De acordo com o advogado e conselheiro do Conselho Estadual do Direito da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves, que acompanha as investigações, o adolescente teria sido ameaçado de morte pelo principal agressor, identificado como Santos. A vítima também reconheceu o segundo segurança como Neto.

“Ainda na segunda-feira, estive no DP (Distrito Policia), o menino foi ouvido na delegacia e prestou seu depoimento de maneira sucinta, mas ele identificou os dois seguranças e citou nomes. Ele estava em situação de rua, sempre frequentava as imediações, então conhecia os seguranças”, explica Ariel, em entrevista à repórter Dayane Ponte, da TVT.

O mesmo supermercado também foi palco de outro caso de racismo envolvendo os seus seguranças. Em abril, ao sair do Ricoy, uma jovem foi abordada por dois seguranças armados, que exigiram que ela abrisse a bolsa. Assim como o rapaz chicoteado, a jovem é negra, explica a advogada da vítima, Ana Paula Freitas. “O que tem de familiaridade com os dois casos é que os dois são negros. Há denúncias que não chegam à polícia, mas os seguranças de supermercados fazem isso. Como uma pessoa negra chega na polícia e diz que foi agredida. Se ele for acusado de tentativa de furto, vão julgar primeiro o furto, depois a atuação dos seguranças”, lamenta a advogada.

A Justiça decretou, na noite desta quarta-feira (4), a prisão por 30 dias de Valdir Bispo dos Santos e David Oliveira Fernandes, os dois seguranças acusados de torturar o jovem. A informação foi confirmada pelo delegado Pedro Luis de Sousa, do 80º DP, na Vila Joaniza, zona sul da cidade. A decisão é assinada pela juíza Tatiana Saes Valverde Ormeleze.

Família de PM é dona de empresa

A empresa KRP Valente Zeladoria Patrimonial, responsável pela segurança do supermercado Ricoy, no qual um jovem negro de 17 anos foi torturado por dois seguranças, tem como proprietária a companheira de um Policial Militar aposentado. De acordo com investigação da Ponte Jornalismo, Kátia Regina Pelacani tem conexão com o PM aposentado Cláudio Geromim Valente.

De acordo com o site do Grupo KRP, a empresa atua há 15 anos e presta serviços de portaria, segurança, instalação de câmeras e videomonitoramento, além de limpeza, paisagismo e jardinagem. Kátia é proprietária da empresa contratada pela rede Ricoy para cuidar da segurança na unidade localizada na avenida Avenida Yervant Kissajikian, região da Cidade Ademar, onde o jovem foi chicoteado.

A reportagem mostra que, em 2015, a KRP mudou seu endereço para a Avenida São João, número 2375, sala 815, localizada na cidade de São José dos Campos, no interior paulista. A troca ocorreu poucos meses depois que Cláudio criou a WVF Zeladoria Patrimonial jnto com seus irmãos Alfredo e Orlando Geromim Valente. Conforme registro abaixo, a empresa tem como “nome fantasia” é Grupo KRP Zeladoria Patrimonial e se localiza no mesmo endereço da empresa de Katia, KRP Valente Zeladoria Patrimonial que cuidava da segurança do Ricoy.

Em agosto de 1995, quando Valente tinha 29 anos e ainda estava na ativa, ele se envolveu na morte de um adolescente de 16 anos, na favela Lacônia 2, conforme reportagem da Folha de S.Paulo. “O crime aconteceu às 11h30. Segundo a polícia, o tenente Claudio Geromin Valente e três outros PMs estariam revistando o menor A.S.F., 16, na favela Lacônia 2, em uma ruela de dois metros de largura, quando a metralhadora Beretta de Valente teria disparado por acidente. A empregada diarista Valdirene Francisco Alves, 19, que estendia roupa na frente de seu barraco, foi atingida. Segundo os moradores da favela, Valente estaria sozinho e agredia o menor a coronhadas. A.S.F. teria se esquivado de um golpe e a arma, esbarrando em seu ombro, teria disparado”, aponta trecho da reportagem da época.

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