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ONG Católicas pelo Direito de Decidir lança livro sobre diversidade sexual

Em meio à censura em São Paulo e Rio, "Teologias Fora do Armário: Teologia, Gênero e Diversidade Sexual" traz arcabouço teórico para denunciar "momento em que o Brasil atravessa profundo fundamentalismo"

TVT/Reprodução
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"Muita gente utiliza a Bíblia como manual de opressões. Esse é um livro para que as pessoas das nossas comunidades de fé, dos bancos das nossas igrejas, dos cultos e das missas se sintam representadas”, destaca uma das organizadoras da obra

São Paulo – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) mandou recolher e inutilizar apostilas distribuídas na rede estadual de educação que traziam explicações sobre orientação sexual, identidade de gênero e sexo biológico. No último final de semana, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) tentou censurar um gibi por considerar “impróprio” o conteúdo que trazia um desenho de dois homens se beijando. É em meio a esse contexto que a organização não-governamental (ONG) Católicas pelo Direito de Decidir lançou, no final de agosto, o livro Teologias Fora do Armário: Teologia, Gênero e Diversidade Sexual, uma obra que traz um arcabouço teórico, mas também levanta diversas denúncias.

“Um ato profético no momento em que o Brasil atravessa um profundo fundamentalismo”, destaca a integrante da ONG e uma das organizadoras e autoras do livro, Tabata Tesser, em entrevista ao Seu Jornal, da TVT.

De acordo com Tabata, o intuito da obra é justamente desmitificar esse fundamentalismo que se projeta sobre o Estado debatendo teologias (no plural), como uma forma de reconhecer a Igreja e o próprio sentido da Bíblia como espaços de disputa. “Muita gente utiliza a Bíblia como manual de opressões para legitimar o seu ódio, a homofobia, legitimar que as mulheres sejam controladas por uma teologia que tem como único princípio vigiar e punir. ‘Teologias Fora do Armário’ é um livro para que as pessoas das nossas comunidades de fé, dos bancos das nossas igrejas, dos cultos e das missas se sintam representadas”, afirma a integrante.

A obra reflete diversas histórias e violências narradas por mulheres, ou pessoas representativas de outros grupos sociais, que muitas vezes deixam de frequentar esses espaços religiosos por se sentirem violentadas por narrativas teológicas que reforçam um ciclo de violência permanente, como padres ou pastores que fazem uma leitura da Bíblia legitimando abusos. “Nesse Deus que condena nós não acreditamos. Então a gente inclusive trata que o fundamentalismo tem como um dos piores pilares esse modo de controle, e aí o que fica mais sofisticado com isso é tratar Deus como gerenciador das posturas humanas, e isso é muito difícil, porque as mulheres se sentem muito violentadas dentro desses espaços”, avalia.

Para Tabata, as atitudes de agentes políticos não são apenas um caso de censura. Crivella, em sua análise, coloca em prática um projeto teocrático, em que se utiliza da sua religião para ferir a própria Constituição. Enquanto Doria infringe ainda a autonomia pedagógica, cometendo “um ato antiético que desconsidera a realidade das políticas públicas”. “É um fundamentalismo, a teocracia sendo aprofundada justamente por esse governo (de Jair) Bolsonaro que coloca na pasta de Direitos Humanos uma pastora, a Damares Alves, que estigmatiza cada vez mais os evangélicos. Mas não, certamente, propõe o que fala o evangelho, que é a justiça social e os direitos (humanos) garantidos”, finaliza a organizadora.

Assista à entrevista da TVT

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