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Cacique Raoni: ‘Jair Bolsonaro não é liderança e deveria sair do governo’

Maior liderança indígena do Brasil defendeu-se dos ataques do atual presidente, proferidos em seu discurso na ONU

Henrique Medeiros/Mídia NINJA
Henrique Medeiros/Mídia NINJA
O cacique do povo caiapó tem 89 anos e é, há décadas, considerado um dos líderes indígenas de maior influência internacional

São Paulo – Jair Bolsonaro não é liderança e deveria sair do governo. A afirmação é do cacique Raoni Metuktire que, em entrevista coletiva na Câmara dos Deputados, defendeu-se das acusações feitas pelo presidente do Brasil na última terça-feira (24), durante o discurso na ONU. Raoni é mundialmente conhecido por defender a preservação da Amazônia e os direitos dos povos indígenas.

De etnia caiapó, a maior liderança indígena do Brasil chegou ao Congresso recepcionado por dezenas de pessoas e foi aplaudido enquanto se dirigia ao Saguão Verde da Câmara dos Deputados. Em sua língua nativa, iniciou a fala de forma conciliatória e disse que seu pensamento é de paz. Em seguida, endureceu o discurso.

O cacique afirmou que Bolsonaro é massa de manobra de outros países para a exploração das riquezas nacionais e se disse preocupado com o futuro do Brasil. “Bolsonaro disse que não sou uma liderança, mas ele que não é e deve sair”, afirmou.

Na ONU, Bolsonaro afirmou que “muitas vezes” líderes indígenas como o cacique Raoni são “usados como peça de manobra” por governos estrangeiros. Ao afirmar que não vai aumentar as áreas indígenas, usou o nome do cacique:  “Acabou o monopólio do senhor Raoni”.

A fala do líder indígena foi curta, mas deixou um recado sobre o papel que procura exercer. “A minha luta é pela preservação do meio ambiente. Hoje, todo mundo está olhando isso e o meu trabalho é para fortalecer a preservação”, acrescentou.

O cacique do povo caiapó tem 89 anos e é, há décadas, considerado um dos líderes indígenas de maior influência internacional. Em 1978 foi tema do documentário ‘Raoni’, indicado ao Oscar na categoria no ano seguinte. Em maio, fez um giro europeu em busca de apoio para a defesa da Amazônia e passou por vários países. Além da visita ao presidente francês Emmanuel Macron, esteve com o papa Francisco e passou também no Festival de Cannes.

A deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RO), a única representante indígena eleita para a Câmara Federal, disse que a Amazônia é um patrimônio da humanidade, ao contrário do que disse Bolsonaro. “Ele não entende sobre responsabilidade compartilhada. A Amazônia tem um significado universal para todos os povos, é de lá que vem a necessidade de proteger os efeitos das mudanças climáticas”, afirmou ao repórter Uélson Kalinoviski, da TVT.

Indígenas unidos

Repúdio às declarações de Jair Bolsonaro na ONU e apoio ao cacique Raoni, atacado na fala presidencial, foram destaque na reunião da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia brasileira (Coiab), em Manaus. A coordenação criticou o discurso de Bolsonaro na ONU e solicitou penalidades e sanções cabíveis ao governo brasileiro por ameaçar a vida da humanidade e dos povos indígenas originários do Brasil e da Amazônia.

Um vídeo divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) — entidade que agrega associações de todas as regiões do país e representa os 305 povos indígenas brasileiros — mostra críticas às falas preconceituosas de Bolsonaro. “Como mãe e mulher indígena, eu repudio a postura do presidente atual. Vamos continuar atuando e dizer ao mundo todo que existimos e a fala preconceituosa de Bolsonaro não condiz com a realidade dos nossos povos”, criticou uma indígena. “Essas palavras violentas, que gera ódio às nações indígenas e estupra a nossa mãe: a terra”, acrescentou outro.

Assista à reportagem do Seu Jornal, da TVT

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