Passado, presente e futuro

Projeto Territórios de Memória vai a Perus refletir as histórias esquecidas da cidade de São Paulo

Criado pelo Instituto Vladimir Herzog, encontro quer resgatar personagens e narrativas de memórias em diferentes regiões da capital paulista

Arquivo/EBC
Arquivo/EBC
Conhecido pela vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, o bairro de Perus guarda histórias da ocupação indígena, da primeira fábrica de cimento do país, entre outras que o projeto Territórios da Memória quer resgatar

São Paulo — Conhecer as histórias esquecidas e ignoradas de diversos territórios da cidade de São Paulo. Esse é o objetivo do projeto “Territórios da Memória”, lançado pelo Instituto Vladimir Herzog, e que no próximo sábado realizará atividade no bairro de Perus, zona noroeste da capital paulista, na Comunidade Cultural Quilombaque.

Lucas Paolo Vilalta, coordenador da área de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, explica que o projeto propõe promover encontros entre pessoas, lugares e narrativas que contem a memória dos territórios esquecidos ou não incorporados pelas narrativas tradicionais de São Paulo. No caso de Perus, o bairro é relativamente conhecido por causa da vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, descoberta em 1990, e onde foram encontradas cerca de mil ossadas escondidas pela ditadura civil-militar (1964-1985).

Segundo Vilalta, o projeto escolheu pessoas em diferentes territórios da cidade, chamados de articuladores, que por sua vez levaram outros grupos para conhecerem o trabalho do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que realiza a análise das chamadas “ossadas de Perus”. A proposta é, em seguida, retornar com esse conhecimento para os territórios de origem e lá realizar atividades de fixação e inserção à memória do local.

“O projeto tem justamente o intuito de fazer com que outras narrativas, outras histórias, outras pessoas possam contar a memória dos seus territórios”, diz Lucas Paolo Vilalta, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual, nesta quarta-feira (28) Ele pondera que, se por um lado Perus começou a ser conhecida por causa da vala clandestina, poucos sabem sobre a grande Greve dos Queixadas, a presença de índios Guaranis ou as histórias da exploração de minério e da primeira fábrica de cimento do país (que tinha o mesmo nome que a cidade).

No dia em que se completam 40 anos da Lei da Anistia Vilalta lembra que muitas histórias da ditadura estão no esquecimento como, por exemplo, os assassinatos de índios e o despejo de milhares de famílias nas periferias. “E essas estórias não estão sendo contadas. Então, o Territórios da Memória propõe realizar atividades formativas em encontros culturais, para ouvir outras narrativas de memória, ouvir outras pessoas. Se estamos num momento de revisionismo histórico, acredito que estamos também num momento de construção da memória das violências desse país.”

Fernanda Nascimento, coordenadora do Centro de Defesa de Direitos Humanos Carlos Alberto Pazzini, de Perus, destaca que as atividades de sábado (31) foram construídas em parceria com diferentes movimentos sociais, como o Movimento Negro Unificado Brasil, a Nova Frente Negra Brasileira, a Biblioteca Padre Anchieta e diversos coletivos da região. A programação inclui exposição de arte e painel com debate sobre as diferentes narrativas de luta no território de Perus. “A região noroeste de São Paulo tem os maiores índices de vulnerabilidade”, enfatiza Fernanda.

Acompanhe a entrevista completa

Leia também

Últimas notícias