Extermínio

Bolsonaro é a ameaça mais séria aos indígenas desde a Constituição de 1988, diz revista científica britânica

Uma das mais respeitadas publicações da área no mundo, "The Lancet" afirma que pressão internacional "é crucial para assegurar a integridade e autonomia" dos povos tradicionais

RODOLFO OLIVEIRA / AG. PARÁ
RODOLFO OLIVEIRA / AG. PARÁ
Uma caminhada pelas principais ruas de São Félix do Xingu foi o ponto alto da programação da Semana dos Povos Indígenas nesta quarta-feira (18). Os índios se concentraram em frente à Secretaria Municipal de Cultura, entoando cantos de guerra e dançando na luta por direitos. Uma das principais reivindicações é a retomada de territórios e a gestão ambiental dessas áreas. Durante a passeata, caciques se revezavam proferindo palavras de ordem, enquanto todos seguiam em cadência rumo à Praça do Triângulo, onde ocorre grande parte das atividades. A passeata foi também um protesto contra a exoneração de Franklimberg Ribeiro de Freitas da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). Ele teria sido demitido pelo presidente Michel Temer a pedido de deputados da bancada ruralista, em Brasília. FOTO: RODOLFO OLIVEIRA / AG. PARÁ DATA: 18.04.2018 SÃO FÉLIX DO XINGU - PARÁ

São Paulo – A revista científica britânica The Lancet publicou editorial, divulgado nesta sexta-feira (9), Dia Internacional dos Povos Indígenas, no qual alerta para as iniciativas do governo de Jair Bolsonaro que comprometem a sobrevivência da população indígena no Brasil. O texto adverte sobre o desmatamento acelerado da floresta tropical no país, que ameaça povos que dependem diretamente da terra, e também menciona as invasões em seu território com atividades econômicas predatórias.

“O Brasil acolhe 1 milhão de indígenas espalhados por 300 tribos, das quais 100 não são contactáveis. Encorajados pela promessa do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, de abolir as reservas indígenas, e abrir a terra para exploração comercial, madeireiros ilegais, garimpeiros e usurpadores de terras públicas, muitas vezes armados, têm-se infiltrado nos territórios Indígenas protegidos”, descreve o editorial. “No norte do país, por exemplo, estima-se que 20.000 exploradores de ouro ilegais tenham entrado na reserva Yanomâni, que é uma das maiores áreas indígenas no Brasil. A extração mineira polui os rios com mercúrio e sedimentos, desgasta as margens dos rios, destrói árvores e cria largas lagoas de água estagnada que são meios favoráveis à reprodução de mosquitos. As pessoas ilegalmente infiltradas também podem transmitir doenças para as quais a população indígena tem pouca ou nenhuma imunidade.”

O editorial ainda aponta para a questão orçamentária e os corte na área de saúde, citando a saída de profissionais do Mais Médicos. “Os serviços de saúde Indígena são muito mais vulneráveis a cortes de orçamento, especialmente porque as populações alvo são em geral pessoas sem poder, que vivem em regiões longe da capital do país ou das cidades principais. Para além disso, na sequência da saída de mais de 8.500 médicos cubanos que trabalhavam para o programa ‘Mais Médicos’, muitas comunidades Indígenas atualmente não têm acesso a um médico.”

“A presidência de Bolsonaro representa a ameaça mais séria para a população Indígena Brasileira desde a Constituição de 1988, que garantiu à população Indígena o direito de usar a sua terra em exclusividade. A pressão internacional em Bolsonaro, para parar a destruição da floresta tropical e proteger o território Indígena da intrusão ilegal, é crucial para assegurar a integridade e autonomia da população Indígena do país e protegê-los de mais prejuízos”, conclui o Lancet.