Invasão em área Wajãpi

‘Esperava que, em um crime, o presidente se solidarizasse com as vítimas, não com criminosos’

Após morte de liderança indígena, Bolsonaro disse que não há indícios fortes de assassinato. Para senador Randolfe Rodrigues, presidente se torna cúmplice dos criminosos

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
Em meios às investigações sobre a morte do cacique Emyra Wajãpi, presidente voltou a defender exploração de garimpos em terras indígenas, mesmo com diante do aumento de invasões em áreas dos povos originários

São Paulo – Após a repercussão da morte de uma liderança indígena na aldeia Wajãpi, em Pedra Branca do Amapari, no oeste do Amapá, Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (29) não ter “nenhum indício forte” de que o cacique Emyra Wajãpi, encontrado morto na semana passada, tenha sido assassinado. Ao deixar o Palácio da Alvorada, segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o presidente declarou que os índios são usados como “massa de manobra, para demarcar cada vez mais terras, dizer que estão sendo maltratados”.

À repórter Nahama Nunes, da Rádio Brasil Atual, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) rebateu a fala do presidente e disse que Bolsonaro se torna “cúmplice” de criminosos. “O que eu esperava do presidente do meu país é que na ocorrência de um crime, ele se solidarizasse com as vítimas, e não se cumpliciasse com os criminosos”, afirma.

Em meios às investigações a partir das denúncias dos indígenas da aldeia que apontam que garimpeiros, fortemente armados, seriam os responsáveis pelo assassinato da liderança na semana passada, além de estar promovendo incursões para expulsar os índios, Bolsonaro voltou a afirmar que irá autorizar o garimpo no Brasil, o que inclui liberar a exploração em terras demarcadas. “O presidente deveria conhecer a Constituição. Se ele não estiver acostumado à leitura dela, poderia pedir para pelo menos a assessoria informar o que diz ela diz antes de falar essas besteiras. A Constituição assegura o direito aos povos originários à demarcação de suas terras”, contesta o senador.

Integrante da coordenação do Comitê de Assuntos Indígenas da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Elaine Moreira defende que é preciso dar um basta às declarações caluniosas sobre os indígenas. Ela lembra que desde o início do ano outras etnias, como os Yanomami, denuncian o aumento de invasões de garimpeiros. “É responsabilidade do Estado garantir a defesa, os indígenas têm o usufruto do território. Só espero que as autoridades, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal, o estado brasileiro deem uma resposta”, afirma.

Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) disse que os servidores do órgão estão no local acompanhando os trabalhos da polícia. Segundo a entidade, relatório da PF afirmou não haver nenhum indício da presença de grupos na terra indígena Wajãpi.

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