diversidade e lutas

Seminário Terra e Território quer unir bandeira agrária e ambiental

Carta do MST junto com outros movimentos sociais denuncia os retrocessos do governo Bolsonaro

Pedro Stropasolas
Pedro Stropasolas
Seminário ocorreu entre os últimos dias 6 e 8, na Escola Nacional Florestan Fernandes, no interior de São Paulo, com 50 movimentos sociais

São Paulo – Movimentos sociais produziram um documentário no último sábado (8), durante o Seminário Terra e Território: Diversidade e Lutas, com sete compromissos em defesa da reforma agrária, pela unidade da luta do campo e contra os retrocessos do governo Jair Bolsonaro. O evento ocorreu entre quinta-feira e sábado, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, no interior de São Paulo, com movimentos sindicais do campo, águas e florestas, trabalhadores e trabalhadoras rurais, pesquisadores, pesquisadoras, organizações não governamentais, ambientalistas e lideranças progressistas.

De acordo com Milton José Fornazieri, coordenador do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em uma crise do capital, os pobres e trabalhadores são os que mais sofrem e, no caso do campo, o meio ambiente é o mais prejudicado. “Nós reafirmamos o que queremos e precisamos, que é a reforma agrária, a preservação ambiental e a necessidade de alimentos saudáveis diante da liberação de agrotóxicos”, explica Milton, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

O encontro também marca o início de uma plataforma conjunta de lutas entre as entidades e organizações participantes, como compromisso da militância com a sociedade. “Queremos a unidade na luta de todos os movimentos. Todos os movimentos sociais presentes trabalham nessa direção de enfrentamento. Esse é o momento mais delicado para indígenas e quilombolas, então devemos lutar por eles também”, acrescenta Fornazieri.

Na carta, os movimentos ainda convocam a sociedade para a greve geral, marcada para a próxima sexta-feira (14). Leia o texto na íntegra.

Carta Terra, Território, Diversidade e Lutas

Ao povo brasileiro,

Nós, movimentos populares e sindicais do campo, águas e florestas, trabalhadores e trabalhadoras rurais, pesquisadores e pesquisadoras, organizações não governamentais, ambientalistas, representantes de governos progressistas, lideranças partidárias e parlamentares, reunidos entre os dias 06 e 08 de junho de 2019, na Escola Nacional Florestan Fernandes (Guararema, São Paulo), considerando os desafios atuais denunciamos que: 

  1. Estamos em tempos de crise do capitalismo, o que resulta no aumento das desigualdades, injustiças, exclusões e violência contra os povos. A fúria insana do capital em busca de sua manutenção aprofunda a exploração e eleva o desemprego dos trabalhadores e trabalhadoras, assalta os recursos públicos e os bens da natureza;
  2. Isto vem sendo feito com a destruição de direitos, retrocesso de conquistas populares do último século e a privatização e destruição dos bens comuns da natureza. O capital se apropria ilegítima e ilegalmente das terras, água, biodiversidade, minérios, petróleo e outras fontes de energia, resultando inclusive em crimes socioambientais como os cometidos pela Vale em Mariana e Brumadinho;
  3. Para implementar a agenda ultraliberal, o capital financeiro e a classe dominante, entreguista e antinacional, impediram a participação de Lula no processo eleitoral e atuaram para eleger o governo Bolsonaro, manipulando a vontade popular por diversos meios, especialmente a disseminação de fake news e a pauta de ódio. Os interesses antinacionais, privatistas e a favor dos Estados Unidos ficam evidentes na entrega da Base de Alcântara, da Embraer, do Pré-Sal e da Amazônia, e nas ameaças de venda do Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica Federal, subsidiarias da Petrobrás, entre outras empresas públicas;
  4. As principais consequências socioeconômicas da agenda ultraliberal são: aumento do desemprego, diminuição dos salários, retirada de direitos trabalhistas, precarização do trabalho, aumento do trabalho escravo, corte de políticas de proteção social e de renda mínima como o bolsa família, paralisação dos programas de moradia, de defesa dos direitos das mulheres e da juventude, cortes na educação pública e brutal ataque à previdência social;
  5. Atendendo os interesses do agronegócio, os governos Temer e Bolsonaro promovem o desmonte das instituições e da legislação de direitos humanos, ambiental, fundiária, e de soberania e segurança alimentar, como o fechamento do MDA, Ministérios do Trabalho e da Cultura, a reformulação da Secretaria de Aquicultura e Pesca, o sucateamento do INCRA, FUNAI, IBAMA, ICMBio, Fundação Palmares  e a extinção dos conselhos de participação social, a exemplo do CONSEA, CONDRAF, Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais;
  6. Isso resulta no aumento do desmatamento, do ritmo de exploração dos bens naturais, da liberação e uso de agrotóxicos, da violência contra as mulheres (aumento do feminicídio) e contra a população LGBT, do genocídio da juventude negra e da violência no campo. Ao mesmo tempo, resulta também no fim das ações de reforma agrária, de demarcação de territórios indígenas, de titulação de territórios quilombolas, de reconhecimento de terras tradicionalmente ocupadas, na reconcentração de terras, legalização da grilagem, redução de áreas protegidas, recategorização de áreas de conservação fragilizando a proteção ambiental, retirada de direitos das pescadoras e pescadores artesanais, além da destruição de políticas públicas destinadas aos povos do campo, águas e florestas.

Os participantes do seminário reafirmam a luta:

  1. a) Em defesa das políticas agrárias de Estado, cumprindo a Constituição Federal: a desapropriação para fins de reforma agrária das terras que não cumpram função socioambiental, a demarcação de territórios indígenas, a titulação de territórios quilombolas e o reconhecimento de terras tradicionalmente ocupadas;
  2. b) Em defesa das políticas socioambientais, igualmente garantidas pela Constituição: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida;
  3. c) Pela manutenção e ampliação das unidades de conservação, garantindo direitos de povos e comunidades tradicionais;
  4. d) Em defesa dos territórios, terra, água, sementes, bens da natureza, cultura, modos de vida e do bem viver;
  5. e) Pela soberania alimentar, hídrica, territorial, ambiental, genética, energética e mineral;
  6. f) Pelo direito ao trabalho decente, salário, renda, emprego, renda mínima cidadã, contra a precarização e o trabalho escravo;
  7. g) Contra a reforma da previdência e aposentadoria, que ataca especialmente as mulheres, os assalariados e assalariadas rurais, segurados especiais e professores e professoras. Defendemos a manutenção do sistema de previdência pública de caráter solidário e o direito à aposentadoria;
  8. h) Em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, em todos os níveis, para toda a população brasileira, destacando a importância da educação e das escolas do campo; 
  9. i) Contra o retrocesso nas políticas públicas duramente conquistadas pela classe trabalhadora e povos do campo, águas e florestas;
  10. j) Contra a violação dos direitos humanos, a violência, a liberação da posse e porte de armas, o racismo, o machismo, a pregação de ódio e todas as formas de discriminação;
  11. k) Em defesa do SUS, por uma saúde pública, gratuita e de qualidade;

Diante disso nos comprometemos:

  1. a) Com a soberania popular, os territórios dos povos e os interesses da nação brasileira, nos somando ao conjunto da classe trabalhadora na defesa das empresas estatais, dos serviços públicos como um direito de todos e não mera mercadoria, e contra a submissão do governo Bolsonaro aos interesses dos EUA;
  2. b) A denunciar a seletividade, falta de transparência e participação social no sistema de justiça, e a parcialidade de setores do poder judiciário, que resultam em violações de direitos e impunidade; 
  3. c) A construir um novo projeto para o campo, com centralidade nos sujeitos – em especial as mulheres, jovens e negros – terra e territórios, educação, soberania alimentar, cooperação e agroecologia; 
  4. d) A produzir alimentos saudáveis a preços justos para o povo brasileiro;
  5. e) Com a conservação da natureza e contra a espoliação depredatória do agro-hidro-minero-negócio, denunciando retrocessos ambientais e resistindo a uma economia devastadora;
  6. f) A defender companheiros, companheiras e organizações que sofrem criminalização e violência, denunciando toda injustiça em qualquer parte do país;
  7. g) Pela liberdade do Lula, como expressão de respeito aos direitos constitucionais e democráticos de todas as pessoas.

Reafirmamos a luta unitária pela construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática. Conclamamos o povo brasileiro a resistir e lutar, participando das próximas grandes mobilizações populares, da Greve Geral de 14 de junho e da Marcha das Margaridas em 13 e 14 de agosto.