No país do futebol

Peneiras lotadas, falta de moradia e baixo investimento: a realidade do futebol de base feminino

Em meio às dificuldades financeiras e do preconceito, mulheres mesmo assim persistem nessa modalidade que cresce em participação nos últimos anos

Rafael Ribeiro/Divulgação/CBF
Rafael Ribeiro/Divulgação/CBF
Futebol feminino demanda investimentos financeiros, ampliação das escolas de base e mudança na mentalidade da população, de acordo com pesquisadora

São Paulo – Com a Copa do Mundo disputada na França e que entra em sua fase final, o futebol feminino brasileiro começa a viver dias melhores. A visibilidade do primeiro jogo da seleção brasileira nesta oitava edição da competição superou a audiência do amistoso da seleção masculina contra Honduras. E além do time formado pelas melhores atletas profissionais, este ano o futebol de base feminino ganhou duas novas competições. Com isso, a temporada da modalidade  terá 63% de jogos a mais que a anterior. Ainda assim, a realidade para as mulheres que tentam o esporte  continua sendo marcada por obstáculos que começam desde o início de suas carreiras e vão da falta de incentivo financeiro, às peneiras – seleção que os clubes fazem para descobrir jogadoras – lotadas, falta de moradias e alojamentos para as que almejam a profissionalização e até o preconceito de gênero.

A ausência das chamadas escolinhas também é outro impeditivo para que milhares de meninas com até 14 anos possam iniciar-se na carreira. Apenas os clubes Fluminense, no Rio de Janeiro, o Internacional de Porto Alegre e o Centro Olímpico, em São Paulo – um projeto em parceria com a prefeitura da capital –, suprem essa demanda.

Aos 6 anos de idade, a hoje jogadora profissional do Corinthians Paula Pires, começou sua carreira jogando com os meninos e, logo aos 15 anos, foi para um clube profissional, uma vez que não existiam categorias para a sua idade. Em conversa com a repórter Beatriz Drague Ramos, da Rádio Brasil Atual, a lateral-direita defende que o futuro do futebol feminino está na base. “Aquilo que você aprende desde pequena, vai evoluindo e depois vai para o time principal”, destaca.

Professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e autora da tese Futebol feminino, da periferia ao centro: formação e profissionalização de jogadoras de futebol na cidade de São Paulo, Mariane da Silva Pisani avalia que, para reduzir as desigualdades impostas às futebolistas, o Brasil deveria se inspirar no modelo estadunidense, no qual as escolas de ensino médio e as universidades investem igualmente em esportes masculinos e femininos.

“Não à toa, eles (Estados Unidos) são sempre grandes medalhistas dos jogos olímpicos, que asseguram por lei o acesso das mulheres a diferentes modalidades esportivas”, afirma a pesquisadora. “Mas eu vejo que a gente tem que mudar não só a questão de investimento financeiro, mas a mentalidade do povo brasileiro, desses grandes dirigentes, em pensar que o futebol não precisa ser exclusivamente uma prática de homens, mas que o futebol feminino sim, tem qualidade”.

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