Violência no campo

Em Rio Maria, no Pará, mais um líder de trabalhadores rurais é assassinado

Carlos Cabral Pereira é o terceiro presidente do sindicato morto a tiros. O assassinato foi cometido na tarde de ontem (11), quando Cabral voltava para casa. MPF vai acompanhar investigação

Reprodução
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Cabral é mais uma vítima da violência contra representantes sindicais na região

São Paulo – O Ministério Público Federal (MPF) informou hoje (12) que passou a acompanhar as investigações sobre o assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Maria, no sudeste do Pará, Carlos Cabral Pereira, de 58 anos. Ele foi assassinado a tiros na tarde de ontem (11), quando voltava para casa. É o terceiro presidente da entidade assassinado, em uma região marcada por conflitos de terra e violência.

De acordo com a polícia, Cabral, como era mais conhecido, foi abordado por dois homens em uma moto, já perto de sua residência, por volta de 16 horas. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu antes mesmo de chegar ao hospital. Por enquanto, ninguém foi detido.

Em 1985, o então presidente do sindicato, João Canuto, na época sogro de Cabral, também foi morto a tiros. Em 1991, foi a vez de Expedito Ribeiro ser assassinado. Um ano antes, José e Paulo, irmãos de Luzia, tiveram o mesmo fim – na ocasião, Orlando Canuto, irmão das vítimas conseguiu escapar, mesmo baleado.

Em nota, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) lembram que Cabral já havia sido atacado. “No início da década de 1990 ele foi vítima de uma emboscada quando se deslocava do sindicato para sua casa, em um bairro de Rio Maria. O pistoleiro Paulo César, que o aguardava em uma tocaia, disparou várias vezes, mas acertou apenas um tiro em sua perna. Mesmo ferido, ainda conseguiu fugir do local”, afirmam as entidades, falando em impunidade em relação aos crimes cometidos contra sindicalistas.

“No caso de João Canuto, o inquérito que investigou o crime levou 8 anos para ser concluído. Mais de 18 anos após o crime, a Justiça conseguiu julgar apenas dois fazendeiros acusados de serem os mandantes dos crimes: Adilson Laranjeira (ex-prefeito de Rio Maria) e Vantuir Gonçalves. Os dois foram condenados a penas de 18 anos e 6 meses de prisão, no entanto nenhum deles foi preso até hoje para iniciar o cumprimento da pena”, afirmam a CPT e a SDDH.

O Ministério Público acionou as polícias Civil e Militar, a Delegacia de Conflitos Agrários em Marabá e a Polícia Federal, pedindo informações. “O acompanhamento é necessário pelo histórico de violência agrária no Pará e pelos precedentes de condenações de estados nacionais pela ausência de proteção a defensores de direitos humanos”, diz o MPF.

A coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota em solidariedade à família de Cabral. “O MST como movimento que também luta pela vida, repudia este assassinato, onde a vida de mais um camponês no estado do Pará é ceifada e tratada de forma negligente”, diz o documento. Cobramos das autoridades competentes que tomem as providencias necessárias para identificar os executores e mandantes de tamanha brutalidade cometida por um estado de violência que representa a banalização da vida em nossa sociedade, principalmente em uma região marcada pela impunidade da violência no campo.”

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