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Sob intolerância do governo Bolsonaro, parada em São Paulo mostra orgulho e resistência LGBTI

Em sua 23ª edição, marcha pelos direitos da população LGBTI+ será realizada neste domingo (23), na Avenida Paulista. Evento celebra os 50 anos de Stonewall, marco do ativismo do setor

Rovena Rosa/EBC
Rovena Rosa/EBC
"Bolsonaro só vai dar força para que, neste momento, as pessoas entendam como é importante a organização", diz presidenta da APOGLBT SP

São Paulo – A Parada do Orgulho LGBT volta às ruas neste domingo (23), em São Paulo, para marcar mais um ano de resistência em meio aos retrocessos impostos pelo governo de Jair Bolsonaro. Nesta 23ª edição, o evento, que ocorre a partir das 10h, na avenida Paulista, celebra os “50 anos de Stonewall“, como ficou conhecida a série de protestos, em Nova York, duramente repreendida pela polícia, mas que tornou-se um marco para o ativismo LGBT em todo o mundo.

Rememorar essa batalha de décadas mostra que a busca por direitos e respeito não é de hoje, ou com a ascensão de Bolsonaro, mas sim o “feijão com arroz” de toda a população LGBTI+ que luta pela sua existência, como ressalta a presidenta da Associação da Parada do Orgulho LGBT (APOGLBT SP) Cláudia Regina.

Em entrevista ao programa Bom para Todos, da TVT, Cláudia não descarta que o atual momento, marcado por vozes que estimulam um estado de ódio, seja difícil, mas acredita que, assim como os discursos de Bolsonaro alimentam o preconceito, as pessoas LGBTI+ estão também cada vez mais empoderadas. “Acho que a violência está aumentando justamente porque as pessoas estão se mostrando, elas não têm medo. Estão agindo com normalidade, ocupando espaços, sendo elas mesmo, e isso incomoda”, avalia a presidenta. “E vai aumentar a violência sim, porque ninguém vai voltar para o armário”.

De fato, a violência ainda é uma constante na vida daqueles que lutam pela diversidade sexual e de gênero. Um estudo do Grupo Gay da Bahia (GGB) documenta que, em 2018, a LGBTfobia fez ao menos 420 vítimas fatais e, no cenário internacional, o Brasil é conhecido por diversas agências como o país onde se mata mais do que nações que condenam à pena de morte as pessoas LGBTs.

Mas, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) criminalizando a LGBTfobia, equiparando ao crime de racismo, vem para marcar a resistência dessa população, refletindo uma sociedade que luta por direitos. “Isso é fruto de um movimento que vem como onda de muito tempo. Acho que a importância também da Parada é justamente esse fato de que as pessoas se conscientizam, vão às ruas, se expõem, justamente para falar ‘olhar, se acontecer alguma coisa, se houver retrocessos em direitos, nós estamos aqui para lutar'”, analisa o advogado e ativista pelos Direitos Humanos Mario Solimene Filho.

Nesta que é a primeira edição do evento em meio ao governo Bolsonaro, Cláudia Regina reforça que a mensagem principal ainda é pela resistência. “Ele (presidente) só vai dar força para que, neste momento, as pessoas entendam como é importante a organização”, afirma.

Celebrando a diversidade

Parte da história do movimento LGBT também pode ser conferida neste mês na peça de teatro De volta a Reims, em cartaz até o dia 27 de junho no Viga Espaço Cênico, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulistana.

Inspirada no livro autobiográfico Retour à Reims, do filósofo francês Didier Eribon, o monólogo traz o relato do autor francês sobre sua volta, depois de 30 anos e da morte do pai, à terra natal, onde revive toda a sua existência, incluindo sua homossexualidade e as lembranças de episódios de homofobia que sofreu durante a infância.

O enredo da história chegou a ser elogiado pelo ex-deputado Jean Wyllys, conhecido pelo ativismo pela causa LGBT, mas que precisou deixar o cargo em decorrência de ameaças de morte. O ator que interpreta Didier Eribon, Pedro Vieira, ressaltou o papel da peça em criar uma ponte direta com o público. “Não só os gays se identificam, mas pobres, negros, todo mundo que passou por um processo de mudança importante na vida, principalmente por meio dos estudos, que é a base do espetáculo tem um ponto de identificação forte”, afirma o ator.

Assista ao programa da TVT na íntegra

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