Outros valores

Em tempos de retrocessos, Instituto Vladimir Herzog completa 10 anos e ganha relevância

Criado apenas para organizar o material fotográfico de Herzog e sua história, Instituto hoje é referência na luta pelos direitos humanos

DEFESA TV/YOUTUBE/REPRODUÇÃO
DEFESA TV/YOUTUBE/REPRODUÇÃO
Para Ivo Herzog, a inclusão da educação em direitos humanos nos currículos escolares é fundamental para a evolução da sociedade e a diminuição da violência

São Paulo — Ao comemorar 10 anos de existência, o Instituto Vladimir Herzog, criado por familiares e amigos do jornalista assassinado pela ditadura em 1975, parece ser uma organização cada vez mais importante, considerando a onda de retrocessos em direitos humanos que assola o Brasil. Para Ivo Herzog, filho de Vlado e presidente do conselho do Instituto, o cenário pós-eleição de Jair Bolsonaro trouxe à tona um clima de “que país é esse?”, um contexto em que instituições e organizações como o IVH são vitais para contrabalançar o momento conservador do país.

Famoso pela criação do Prêmio Vladimir Herzog de jornalismo, concedido há 41 anos, Ivo pondera que a premiação é uma espécie de “termômetro das liberdades e da justiça no Brasil.” E embora anualmente o prêmio tenha batido recorde de inscrições, o filho de Vladimir Herzog não vê isso com bons olhos. “Acho triste, porque isso quer dizer que estão tendo mais violações, mais coisas acontecendo não conforme deveriam ser, que é basicamente o respeito aos direitos humanos, o respeito ao cidadão”, diz Ivo Herzog, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

Ivo explica que o Instituto nasceu de forma humilde, apenas com o intuito de organizar o material fotográfico do pai e sua história, colocando as informações à disposição de estudantes, jornalistas e pesquisadores, pois a demanda era sempre grande a cada aniversário da morte de Vlado. Com o tempo, todavia, os amigos e familiares perceberam que os fatos não se resumiam a história do jornalista Vladimir Herzog. “Meu pai é um personagem da história de uma geração que lutou por justiça, por democracia e por liberdade de expressão”, afirma.

Ao longo dos 10 anos de atuação, o Instituto Vladimir Herzog realizou diferentes projetos voltados para a área dos direitos humanos, incluindo projetos educacionais de respeito à diversidade, e ações culturais de resgate e preservação da história recente do Brasil. Atividades que ganham em importância no momento em que o Brasil tem um presidente que defende a tortura, um discurso de ódio que tem sido adotado também pelos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

“São discursos pró-violência, pró-soluções a partir da eliminação do outro, ou seja, são discursos de extermínio, discursos fascistas. ‘Ou você pensa igual a mim, ou será exterminado da sociedade.’ É muito grave que estejamos vivendo esse discurso de ódio, e que tenha um governo que implementa uma política de ódio, como os regimes fascistas e nazistas”, critica Ivo Herzog.

Ao destacar os projetos educacionais do Instituto, ele lembra de uma palestra proferida pelo alto-comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos na América Latina, Américo Calcaterra, durante o início dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Na ocasião, Calcaterra disse que os países que conseguiram reduzir a violência urbana foram justamente aqueles que incluíram a temática da educação em direitos humanos nos currículos escolares.

“Não adianta colocar mais polícia na rua ou armar a população, como alguns querem. Começa na infância, na construção de valores, de entendimento da diversidade, de respeito com o outro”, analisa Ivo Herzog.

Para celebrar uma década de atividades, o Instituto promove, nesta quinta-feira (26), um evento na sala do coro da Catedral da Sé, em São Paulo, com show da Orquestra de Câmara.

Ouça a íntegra da entrevista

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