contra o desmonte

Em defesa do Censo de 2020, ex-presidentes e funcionários do IBGE lançam campanha

Campanha 'Todos pelo Censo' será lançada hoje no Rio de Janeiro e defende a importância da pesquisa na elaboração de políticas públicas em todo o país

Marcelo Justo/Folhapress
Marcelo Justo/Folhapress
Realização do Censo 2020 exige milhares de trabalhadores que vão visitar 70 milhões de domicílios em todas as cidades do Brasil

São Paulo – Preocupados com a estrutura para realização do censo demográfico em 2020, funcionários do IBGE, apoiados por representantes da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), lançam nesta quinta-feira (6), às 18h, no Rio de Janeiro, a campanha Todos Pelo Censo 2020. Estarão presentes ex-presidentes do órgão e intelectuais para defender a importância da pesquisa para os vários setores da sociedade e os impactos de um possível atraso no próximo recenseamento. O movimento surgiu em resposta à redução de 25% no orçamento do Censo 2020, proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Inicialmente, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) pretendia cortar R$ 210 milhões do orçamento previsto no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), equivalente a 87% da verba de 2019. Após críticas, o congelamento foi revisto e ficou em 22%. Algumas questões foram excluídas, reduzindo a eficácia do questionário para posterior elaboração de políticas públicas. A campanha Todos Pelo Censo 2020 defende que também haja uma revisão no orçamento do próximo ano e que as áreas que terão corte sejam divulgadas.

A falta de informações concretas sobre a redução do orçamento preocupa o conselho consultivo e o corpo técnico do IBGE. No momento, quando os preparativos para a realização do Censo 2020 deveriam estar bem encaminhados, não há nenhuma informação oficial sobre o valor exato disponível para o próximo trabalho. Nem como a presidenta do IBGE, Susana Cordeiro, pretende concretamente reduzir os gastos.

Coordenadora do núcleo Chile da Associação dos Servidores do IBGE (Assibge), a mestre em Sociologia Luanda Botelho explica que a situação põe em risco o desenvolvimento eficiente do censo. “A realização de um censo no Brasil é um trabalho que começa quatro anos antes da pesquisa ir para as ruas. Propor cortes, alterações no questionário e mudanças na forma de coleta dos dados neste momento em que o cronograma já deveria estar bastante adiantado coloca em risco a qualidade do censo. Vamos perder muitas informações cruciais para a elaboração de políticas públicas”, aponta.

Luanda destaca que o orçamento do censo não é tão grande como pode parecer. “Quando se coloca o orçamento bilionário do censo 2020 sob a perspectiva do investimento por habitante temos R$ 16 por pessoa a cada 10 anos. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos esse valor é de R$ 45. Uma pesquisa domiciliar envolvendo 70 milhões de domicílios, em um país de dimensões continentais como o Brasil, tem custo elevado mesmo”, defende.

Estarão presentes no lançamento da campanha os ex-presidentes do IBGE Eduardo Nunes (2003/2011), Wasmália Bivar (2011/2016) e Roberto Olinto (2017). Entre os intelectuais que apoiam o movimento, estão Marcio Pochmann, ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor do Instituto de Economia da Unicamp; Eduardo Rezende Francisco, professor de Data Science, GeoAnalytics e Big Data da Fundação Getúlio Vargas (FGV); Ricardo Ojima, presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), e Kátia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.