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Água potável ainda é ‘item de luxo’ para bilhões de pessoas no mundo

Relatório do Unicef e da OMS revela que metade da população do planeta não tem acesso a sistemas de esgotamento sanitário

Zanone Fraissat/Folhapress
Zanone Fraissat/Folhapress
Falta de acesso a água potável e esgotamento sanitário afetam bilhões e matam milhares de crianças todos os anos

São Paulo – Água potável é um item básico à vida que nem todas as pessoas podem ter. Um relatório elaborado em parceria entre o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que cerca de 2,2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a serviços de água tratada, 4,2 bilhões de pessoas não têm serviços de esgotamento sanitário e 3 bilhões não possuem instalações básicas de banheiros, com um local protegido com ponto de água e latrina não compartilhada. Aproximadamente 300 mil crianças menores de 5 anos morrem todos os anos devido à diarreia associada a água contaminada, saneamento e higiene inadequados.

Esses problemas também estão ligados à transmissão de doenças como cólera, disenteria, hepatite A e febre tifoide. “A eliminação das desigualdades na acessibilidade, qualidade e disponibilidade de água, saneamento e higiene deve estar no centro das estratégias de financiamento e planejamento do governo. Afrouxar os planos de investimento para cobertura universal é enfraquecer décadas de progresso ao custo das próximas gerações”, explicou Kelly Ann Naylor, diretora associada do programa de Água, Saneamento e Higiene do Unicef.

“Mero acesso não é o suficiente. Se a água não é limpa, não é segura para beber ou fica afastada, e se o acesso ao banheiro é inseguro ou limitado, então não estamos entregando o que é necessário para as crianças do mundo”, ressaltou Kelly. “As crianças e suas famílias nas comunidades pobres e rurais correm o maior risco de ser deixadas para trás. Os governos devem investir nas comunidades delas, se quisermos unir essas divisões econômicas e geográficas e entregar esse direito humano essencial”, completou.

O relatório intitulado Progressos sobre água, saneamento e higiene: 2000-2017: Foco especial nas desigualdades revela que 1,8 bilhão de pessoas conseguiram acesso a serviços básicos de água potável desde 2000, mas ainda há grandes desigualdades na acessibilidade, disponibilidade e qualidade desses serviços. Estima-se que 144 milhões de pessoas sequer bebam água tratada. Os dados mostram que oito em cada 10 pessoas vivendo em áreas rurais não têm acesso a esses serviços e que, em muitos países, a cobertura de serviços básicos para os mais ricos é pelo menos duas vezes maior do que para os mais pobres.

Desde 2000, caiu significativamente o número de pessoas que realizam defecação a céu aberto. Há 19 anos, 21% da população não tinha um lugar minimamente adequado para isso. Em 2017, o número foi reduzido para 9%. No entanto, 673 milhões de pessoas sofrem com esse grave problema e, em 39 países, o número de atingidos aumentou.

A diretora do Departamento de Saúde Pública, Determinantes Ambientais e Sociais da Saúde da OMS, Maria Neira, avalia que os governos precisam se comprometer com maior investimento em saneamento básico para melhorar a qualidade de vida da população. “Se os países não conseguirem intensificar os esforços de saneamento, água potável e higiene, continuaremos a viver com doenças que deveriam ter ficado há muito tempo nos livros de história: doenças como diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A e doenças tropicais negligenciadas. Investir em água, saneamento e higiene é economicamente viável e bom para a sociedade de muitas maneiras. É uma base essencial para a boa saúde”, concluiu.

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