Mais mortes

‘Não adianta comemorar queda nos homicídios e latrocínios se letalidade policial aumenta’

Em evento sobre violência policial, coordenadora de projeto do Instituto Sou da Paz, Ana Carolina Pekny, ressaltou que é preciso olhar para o número de pessoas mortas “independentemente de quem matou”

Arquivo EBC
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Uma pessoa foi morta, a cada 10 horas, por policiais do estado, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz

São Paulo – No ano de 2017, quase mil civis foram mortos por agentes policiais, segundo dados da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo apresentados pelo ouvidor Benedito Mariano em audiência pública sobre violência policial no estado realizada nessa quarta-feira (22) pelo Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo.

De acordo com Mariano, esse foi o período que registrou o maior índice de letalidade policial dos últimos cinco anos, sendo ainda que, em 74% das mortes, houve excessos por parte dos agentes públicos. A preocupação dos especialistas em segurança pública e representantes de diversas entidades que participavam da audiência é de que o ano de 2019 supere as estatísticas de 2017. “O começo do ano de 2019 teve de novo um aumento, em média de 8%, voltando aos patamares de 2017”, alerta Benedito Mariano à repórter Ana Rosa Carrara, da Rádio Brasil Atual.

Um levantamento do Instituto Sou da Paz aponta ainda que nos primeiros três meses deste ano uma pessoa foi morta, a cada 10 horas, por policiais. “Não adianta comemorar a queda dos homicídios e dos latrocínios enquanto a letalidade policial está aumentando tanto. A gente precisa olhar para o número de pessoas mortas no estado, independente de quem matou”, adverte a coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz Ana Carolina Pekny durante a audiência.

Pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Cristina Neme avalia ainda que a atuação de lideranças políticas e organizativas pode influenciar na oscilação da letalidade das policias. “Embora as medidas organizacionais no dia a dia da rotina policial sejam fundamentais, elas têm que caminhar conjuntamente com uma postura política, que defenda e implemente uma postura alinhada com a defesa dos direitos, da vida e com a redução letalidade e da vitimização dos policiais também”, propõe.

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