Mãos invisíveis

Repasse de dados coletados pelo Facebook ao mercado representa risco à democracia

Casos de vazamento e manipulação das informações para influenciar nas eleições pelo mundo confirmam, na análise da especialista Flávia Lefévre, a necessidade de regulação das redes sociais

Marcello Casal Jr./EBC
Marcello Casal Jr./EBC
São diversas as empresas que têm utilizado das base de dados do Facebook para disseminar fake news

São Paulo – O Facebook detectou a existência de uma empresa israelense que trabalhava espalhando fake news em processos eleitorais de todo o mundo, inclusive no Brasil. Atuando há mais de 15 anos, a companhia Archimedes Group investiu ainda cerca de U$ 800 mil em anúncios mentirosos. A rede social chegou declarar o banimento da empresa, mas as notícias que correm pelo mundo dão conta de atuação semelhante por diversos grupos na disseminação de informação falsas. Nesta semana, a ONG Avaaz identificou mais de 500 páginas e perfis no Facebook ligados a grupos da extrema-direita, anti-imigrantes e anti-União Europeia, que espalhavam fake news com o propósito de influenciar as eleições para o Parlamento Europeu que ocorrem até este domingo (26).

Tais notícias confirmam o risco que as instituições democráticas vêm correndo diante do uso econômico feito a partir do modelo de negócios do monopólio que é o Facebook, ao permitir a captação de suas bases de dados pessoais para que empresas vigiem e influenciem na participação política dos cidadãos, sem qualquer regulação, como explica a integrante do Coletivo Brasil de Comunicação Social (Intervozes) Flávia Lefévre, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

“Isso é grave e compromete as instituições democráticas do país, e nós temos fatos concretos mostrando isso, como as eleições nos Estados Unidos, o resultado do Brexit e, nitidamente, as nossas eleições aqui no Brasil”, afirma a representante do Terceiro Setor no Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.Br). De acordo com Flávia, a vigilância e a capacidade de influência são ainda mais graves no mercado brasileiro. Isso porque as empresas que atuam na área de telecomunicações aqui estão diretamente associadas ao Facebook como na oferta do acesso gratuito a essa rede e ao Whatsapp, considerado o principal meio para eleger Jair Bolsonaro como presidente.

“Segundo dados do CGI.Br, nas classes D e E, 83% dos usuários da internet só acessam a internet por dispositivos móveis, e na classe C a gente chega a 53%. Nessas classes sociais que o Brasil concentra mais população, imagine o poder de desinformação e comprometimento das instituições democráticas no Brasil”, pontua Flávia.

Confira a íntegra da entrevista


 

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