80 tiros

‘Pessoas que cuidam da segurança não podem ser tratadas com ideologia’

Ao comentar morte no Rio, ex-secretário afirma que treinamento exige 'comando e inteligência', e não discurso. Integrantes de comissão de direitos humanos criticam política do governo para a segurança

Reprodução Memorial da Resistência

Para ex-secretário Belisário dos Santos Jr., caso no Rio mostra aplicação da ‘doutrina do projeto de segurança’ do governo

São Paulo – A morte do músico Evaldo Rosa, de 51 anos, no último domingo, foi consequência da aplicação da “doutrina de segurança” em discussão no Congresso, opinou o ex-secretário estadual da Justiça e Defesa da Cidadania Belisário dos Santos Jr., durante entrevista coletiva da Comissão Arns, na manhã desta terça-feira (9). “Os policiais militares, os militares, essas pessoas que cuidam da segurança não podem ser tratados com ideologia. Precisam de treinamento, comando, experiência, inteligência. Não precisam de discurso.”

Evaldo morreu depois que o carro em que ele estava com sua família foi atingido por pelo menos 80 tiros disparados por soldados do Exército, no domingo (7), em Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro. A alegação para o ato é de que havia um bandido dentro do veículo. Era uma família, que estava indo para um chá de bebê. A viúva do músico, Luciana, disse que eles se sentiram protegidos justamente por estarem próximos de um quartel.

“Aplicou-se a doutrina do projeto de segurança que está na Câmara”, replicou Belisário a respeito do “pacote anticrime” apresentado pelo ministro Sergio Moro. Para o integrante da comissão e ex-advogado de presos políticos, o pacote “contém elementos que podem isentar pessoas de suas responsabilidades”. Segundo ele, é “praticamente uma garantia para matar”.

O ex-ministro José Gregori afirmou que é preciso investigar para saber por que razão os soldados agiram daquela maneira. “Se foi ideia de um sargento, de um general, de um sistema”, acrescentou. Para ele, o depoimento da viúva atesta o fracasso das ideias de quem defende uma política baseada na violência. “São certos crimes que fazem eco a palavras de ordem que foram ditas com todo rigor nos palanques eleitorais.”

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