Governo Doria despeja 400 famílias sem-terra no interior paulista
Após oito meses de ocupação, e muita produção de alimentos agroecológicos em Mogi-Guaçu (SP), 400 famílias de agricultores foram retiradas de área abandonada pelo estado
Publicado 22/04/2019 - 17h17
Famílias protestam contra despejo e reivindicam a destinação do terreno público para a reforma agrária
São Paulo – O governo de João Doria (PSDB) despejou hoje (22) 400 famílias de trabalhadores rurais organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na cidade de Mogi-Guaçu, interior paulista. A área compunha a antiga Fazenda Campininha e atualmente pertence ao estado de São Paulo.
As famílias deixaram o local com lavouras de maxixe, mandioca, quiabo, melancia e outras variedades de cultivos, produzidos em sistema agroecológico nos oito meses de ocupação do terreno. “Nossa maior tristeza é deixar nossa roça, pois essa terra é muito boa. Já colhemos muito e nos próximos meses iríamos colher muito mais. É muito triste saber que toda essa terra vai voltar a ficar abandonada, mas não vamos desistir. Aqui ainda vai ser nosso assentamento”, afirmou a agricultora Sueli Borges.
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A área esteve abandonada por anos, sendo alvo de queimadas frequentes e depósito de carros roubados. Segundo o MST, o espaço está em processo de venda pelo governo paulista, “para beneficiar grandes empresas do agronegócio com a terra pública”.
“O governo optou pela reintegração de posse, perdendo a chance de realizar a reforma agrária e cumprir a função social da terra, tornando a área produtiva, com geração de renda e desenvolvimento econômico para a região”, lamentou Sueli. As famílias acusam o governo Doria de não se importar com a situação delas, não oferecendo qualquer apoio material ou ação social para os agricultores despejados.
Os sem-terra seguirão reivindicando a destinação da área da Fazenda Campininha para reforma agrária, com a implementação de um assentamento agroecológico. Doria declarou guerra ao MST ainda no período eleitoral, afirmando que não aceitaria novas ocupação no estado.
O governador vetou também a realização da quarta edição da Feira Nacional da Reforma Agrária no Parque da Água Branca, na capital paulista. O evento ocorreu no local nos três anos anteriores, promovendo forte movimento de consumidores em busca de produtos orgânicos e agroecológicos produzidos em assentamentos de todas as regiões do país – além das atrações culturais e debates voltados para a promoção do manejo sustentável da terra e da segurança alimentar.
A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, em email enviado à Rede Brasil Atual, afirma que “o local não estava abandonado, não faz parte da relação de áreas sujeitas à reforma agrária e é destinado a projetos de pesquisa sobre recuperação do cerrado, fauna e flora.” Ainda segundo o órgão da gestão Doria, o terreno estava ocupado ilegalmente há menos de um ano.