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Redução da desigualdade social passa por reforma tributária

Durante seminário, especialistas avaliaram pesquisa da Oxfam que mostra dados da percepção de brasileiros sobre questões raciais, de gênero e classe

Agência Brasil

Especialista diz que desigualdade ocorre também na transferência de renda dentro das famílias pobres e negras

São Paulo – Para o Brasil avançar no combate da desigualdade social, o debate deve ser pautado na atenção aos vulneráveis e na reforma tributária. Essa foi a avaliação feita pela economista e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Luana Passos, sobre o estudo da Ofxam Brasildivulgado nesta segunda-feira (8). Junto com diversos especialistas, Luana participou de seminário na terça (9), em São Paulo, na qual abordou diversos pontos de vista sobre as desigualdades de classes no país, conforme mostra reportagem de Beatriz Ramos, da Rádio Brasil Atual.

Luana também acredita que uma reforma tributária é imprescindível para a redução das desigualdades sociais. “A maior parte da tributação brasileira é indireta, sobre bens e serviços, o que tem um efeito regressivo e reforça a desigualdade. Se você quer enfrentar isso, reforma o sistema tributário para que tenha impacto progressivo”, criticou.

“A mulher tem menos tempo disponível para trabalhos, pois ela assume os compromissos domésticos. Ainda tem o cuidado aos idosos, na qual a sociedade brasileira não está preocupada. Há um cruzamento de vulnerabilidade e, nós, mulheres negras, estamos em uma situação pior comparado a outros grupos”, disse a economista.

A pesquisa da Oxfam mostra que a visão de que negros ganham menos do que brancos no trabalho por serem negros passou de 46% para 52%. Além disso, a proporção de pessoas que acreditavam que mulheres ganhavam menos do que homens no mercado de trabalho simplesmente por serem mulheres passou de 57%, em 2017, para 64%.

Já na visão de Flavia Oliveira, jornalista especialista em economia, a desigualdade ocorre também na transferência de renda dentro das famílias pobres e negras. “Nenhum grupo da sociedade faz mais política pública de transferência de renda do que as mulheres e o povo negro. Nós fazemos desde quando nascemos, quando trabalhamos desde a infância. Trabalho infantil também é transferência de renda. Todas as políticas públicas nascem no esforço instantâneo dessa população que se ajuda e montam redes de solidariedade”, comentou.

O estudo avaliou 10 medidas prioritárias para a redução de desigualdades. A redução da corrupção ficou em primeiro lugar na pesquisa, como a medida mais importante. O investimento público em saúde e educação permaneceram em segundo e em terceiro lugar respectivamente.

Nas últimas colocações, a pesquisa revelou que os brasileiros veem a cobrança de impostos dos mais ricos e o investimento em assistência social como as ferramentas menos importantes para diminuir a distância entre os mais ricos e os mais pobres.

A pesquisadora acrescenta que os resultados demonstram baixa adesão a um projeto de um Estado mínimo para o Brasil, defendido pelo candidato vencedor na última eleição. “Os dados que mostram que os brasileiros são favoráveis às medidas redistributivas. Ao contrário do que era esperado, dentro da eleição de Bolsonaro, a população aumentou ainda mais o apoio para a distribuição de renda”, afirmou Luana.

A cientista política e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Marta Arretche critica a isenção de dividendos. “É um enorme fator de desigualdade no Brasil, que ainda reduz a receita dos governos, que poderia arrecadar U$ 40 bilhões. Os indivíduos que ganham uma renda anual de R$ 1,2 milhão são os mais beneficiados por essa medida”, explicou.

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