80 tiros

Comando Militar e Moro chamam fuzilamento de músico de incidente

Representantes do governo criticam, mas amenizam episódio que resultou na morte de músico no Rio de Janeiro. Advogado quer que o caso seja transferido da Justiça Militar para a Civil

Reprodução

Em entrevista a Pedro Bial, Sergio Moro não opinou sobre o que deveria acontecer com autores do incidente

São Paulo – O fuzilamento do músico Evaldo dos Santos Rosa, no domingo (7), foi um “triste incidente”, na definição do Comando Militar do Leste (CML), que divulgou nota nesta quarta-feira (10). O mesmo conceito foi usado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo: “Foi um incidente bastante trágico”. Mais adiante, ele observou que “lamentavelmente esses fatos podem acontecer”.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, reforçou, falando em “lamentável incidente”, que será apurado, segundo ele, “até as últimas consequências”. E o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), disse que “não me cabe fazer juízo de valor”.

Evaldo morreu depois que o carro que ele dirigia, levando sua família para um chá de bebê, foi atingido por pelo menos 80 tiros de fuzil, disparados por soldados do Exército. A versão dos militares é de que eles confundiram o veículo com o de criminosos. Outras duas pessoas ficaram feridas no “incidente” de Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro. O corpo de Evaldo foi enterrado na manhã de hoje, com protestos diante da Vila Militar.

Também hoje, a juíza Mariana Campos, da 1ª auditoria da Justiça Militar, converteu a prisão temporária de nove dos 10 soldados presos em preventiva. “Uma vez tendo sido apreciados os fatos pelo foro competente, cabe exclusivamente à Justiça Militar da União pronunciar-se acerca das próximas etapas processuais”, afirma o Comando Militar. 

O CML informou ainda que, “após desinformação inicial, prontamente corrigida”, está acompanhando o desenrolar dos fatos, “pautado pela prudência e pela isenção na divulgação das informações, em respeito a princípios constitucionais e ao devido processo legal”. E reitera “o compromisso dos integrantes do Exército Brasileiro para com o absoluto respeito à dignidade humana, jamais admitindo ou compactuando com eventuais condutas que possam com ela conflitar”. No final da nota, “lamenta o triste incidente que vitimou o senhor Evaldo e expressa condolências aos seus familiares e amigos, ao mesmo tempo em que anseia pelo pleno restabelecimento dos senhores Sérgio e Luciano”.

Na entrevista, o ministro Moro disse que os fatos têm de ser apurados, e o Exército está fazendo isso. “Se houve ali um incidente injustificável em qualquer espécie, o que aparentemente foi o caso”, acrescentou.

De acordo com a Agência Brasil, o advogado João Tancredo, que representa a família de Evaldo, disse que vai pedir a transferência do caso para o Tribunal do Júri. “Nós pretendemos forçar, de todas as maneiras, que ele vá para a Polícia Civil, para apuração da Justiça estadual. É um crime doloso contra a vida, é competência do Tribunal do Júri. Não estou dizendo que não quero que fique com a Justiça Militar porque eles são desonestos, eu estou dizendo que eles são corporativos. Vão fazer uma visão corporativa de um determinado fato. Isso está errado, o julgamento tem que ser independente. E a visão independente é de quem não participou.”

 

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