Voz e representatividade

Séculos depois, a cultura e a história indígena são contadas pelos próprios índios

Com o uso de novas tecnologias, como uma radioweb, e pesquisas acadêmicas, a história e a cultura dos índios ganha olhar próprio

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Hoje a cultura, a relação com a terra, a cosmologia e filosofia dos índios tem sido estudada e contada por seu protagonistas

São Paulo — A história e a cultura indígena contada pelos próprios indígenas. Esse é um dos objetivos da rádio Yandê, a primeira radioweb indígena do Brasil, e também das pesquisas acadêmicas atualmente desenvolvidas por estudiosos nativos dos povos originais do Brasil. “Por muito tempo a gente foi objeto da fala do outro, e cada vez mais a gente se apropria destes diferentes espaços e tecnologias, para de alguma maneira dar voz e representatividade, pra gente ser protagonista da nossa própria história”, afirma a jornalista, poeta e cofundadora da rádio Yandê Renata Machado Tupinambá, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual

Trabalhando com comunicação indígena desde 2008, Renata conta que a rádio Yandê traz representatividade para a cultura indígena, uma representatividade que atualmente tem sido também obtida por meio da pesquisa acadêmica. Segundo ela, o processo de colonização do Brasil fez com que no meio acadêmico os povos indígenas fossem sempre tratados como objeto de estudo, em detrimento ao valor dos próprios saberes indígenas.  

“A categoria dos nossos estudos sempre foram colocados num modo inferior ao de outros saberes acadêmicos. Hoje a gente busca o reconhecimento dos nossos saberes como ciência”, explica a jornalista. Ela destaca que atualmente há muitos acadêmicos indígenas, não só no Brasil, e que estudam temas como a cultura, a relação com a terra, a cosmologia e a filosofia. “A gente também faz muitos estudos ‘descoloniais’, ‘descolonizadores’, para mostrar nossa história do nosso ponto de vista.” 

Renata reforça a importância de haver pesquisadores índios estudando a cultura indígena, com olhares e óticas próprias. “Nossas ciências devem entrar num patamar de igual para igual, não inferior”, pondera, citando o Seminário Internacional sobre Atuação Indígena em Pesquisas Colaborativas e Valorização de Conhecimentos, que iniciou nesta quarta-feira (20), no Rio de Janeiro. 

“O processo colonial mostra os que foram heróis para um lado e, às vezes, desconsidera todos os outros que estavam em volta. Quando a gente retoma esse lugar de fala, passa a aparecer histórias que as pessoas não tinham conhecimento, não conheciam a história indígena pelo olhar indígena.” 

Para Renata, é importante mostrar que a cultura indígena não é estática no tempo, e se transforma de acordo com os contextos históricos. “A cultura é algo vivo, não é algo morto. A todo momento ela está se fortalecendo e também com o apoio das novas tecnologias para a documentação das línguas, dos novos saberes. Antigamente a gente não encontrava uma maneira de fortalecer nossas identidades por meio das novas tecnologias”, afirma. 

A rádio Yandê pode ser ouvida na web, no aplicativo iRádios (disponível para celulares iPhone e Android), além de informações pelo WhatsApp (21) 99235-3549.

Ouça a íntegra da entrevista com Renata Tupinambá

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