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Polícia Civil da Bahia amplia investigação de tortura e morte de ativista ambiental

Delegado Geral admitiu falha pela não realização de perícia técnica no dia do crime contra Rosane Santiago Silveira, que resistia à expansão do eucalipto em reserva ambiental

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Rosane Santiago, assassinada na Bahia, resistia a expansão do eucalipto em reserva da região

São Paulo – Na manhã da segunda-feira (18) o Delegado Geral de Polícia Civil da Bahia, Bernardino Brito Filho, e o diretor do Departamento de Polícia do Interior (Depin), Flávio Góis, determinaram o envio de equipes especiais de reforço policial para a investigação e perícia do brutal assassinato de Rosane Santiago Silveira, que ocorreu no dia 29 de janeiro, em Nova Viçosa-BA. A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) reuniu-se com os delegados e com o filho da vítima, Tuian Santiago Cerqueira, para cobrar esclarecimentos sobre a condução e aprofundamento das investigações.

Rosane era ativista de causas ambientais, culturais e de direitos humanos. Foi encontrada morta em sua residência com pés e mãos atados e feridos, pano em volta do pescoço (indicando estrangulamento), duas perfurações por arma branca (possivelmente faca) e uma perfuração por arma de fogo na cabeça (possivelmente por trás). O caso foi inicialmente tratado como suspeita de latrocínio.

A reportagem entrou em contato com a delegada que coordena as investigações, Valéria Chaves na quarta-feira (14). A delegada desmentiu informação cedida à família de que a hipótese do crime seria alterada para feminicídio, tortura e extermínio, comunicando que a nova linha era de homicídio qualificado. Em princípio, a delegada também descartou qualquer relação do homicídio com as atividades políticas de Rosane e declarou que as oitivas realizadas em Nova Viçosa não davam notícia de sua militância ambiental.

Na reunião, Tuian Cerqueira informou aos delegados que, de acordo com a delegacia de Nova Viçosa, não foi determinada a realização de perícia técnica no local do crime. “Nós não temos perícia que possa fornecer qualquer contexto de materialidade em caso de haver suspeitos” frisou. O fato foi considerado grave pelas autoridades policiais.

O procedimento é padrão e fundamental para a investigação de crimes contra a vida, em especial num caso crítico como o da ativista, com evidências de premeditação e requintes de crueldade, segundo Brito Filho. “Estamos colocando equipes especializadas de Salvador (…) há outras técnicas de investigação e podemos avançar voltando ao local do crime”, assegurou o diretor do Depin. O diretor Góis solicitará ainda apuração das ações e responsabilidades dos agentes públicos em eventual omissão da instrução do inquérito policial.

ICMBioReserva Extrativista de Cassurubá
Reserva Extrativista de Cassurubá, situada entre os município de Nova Viçosa, Alcobaça e Caravelas
RBAIlha da Barra Velha
Ilha da Barra Velha, parte da RESEX de Cassurubá. Rosane era proprietária de um terreno na ilha

Tuian também informou que Rosane sofreu ameaças de morte, tendo registrado três boletins de ocorrência aos quais a família ainda não teve acesso. O filho, que é médico, pôde examinar o corpo da mãe no IML de Teixeira de Freitas, e descreveu também presença de lesões de defesa no braço e mãos de Rosane, indicando que ela teria lutado contra os agressores antes de ser amarrada.

Sobre a linha investigativa, os delegados afirmaram não ter dúvidas sobre a relação do crime com as atividades políticas de Rosane na região. Ela integrava, como suplente, o conselho da Reserva Extrativista (Resex) de Cassurubá, e era proprietária de um terreno na ilha de Barra Velha, que é parte da mesma reserva. Mais recentemente, vinha lutando contra a produção e transporte fluvial de eucalipto na área de proteção, que causa degradação dos mangues.

Alice Portugal, que solicitou a reunião com o Delegado Geral, cobrou aprofundamento das investigações diante das muitas evidências de que o crime tenha relação com a militância ambiental de Rosane. “Nós viemos aqui pedir que essa investigação seja aprofundada. As evidências são muito fortes de que há uma relação da atuação política dela com o crime. Uma ativista torturada, em pleno exercício de sua atividade. A Bahia, desses estados que têm reserva, talvez seja um dos que menos tem esse tipo de ocorrência, não podemos deixar esse crime impune”

Após a reunião, Tuian afirmou que a preocupação da família era de que houvesse uma desqualificação do ativismo político de Rosane. “Minha mãe dedicou os últimos anos de sua vida à causa daquela região. Dizer que não houve nenhuma motivação política por conta dessa militância seria uma derrota para nós da família e também para todas as pessoas que se empenham neste tipo de causa. Então, houve esse alento no sentido de que a polícia reconhece, a partir dos indícios, que a motivação foi por causa da sua militância ambiental”, declarou.

No Congresso Nacional

Na Câmara dos Deputados, Alice Portugal pronunciou-se no dia 5sobre o assassinato de Rosane e também após a reunião com os delegados, no dia 19. “Quero fazer um apelo ao Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia e ao Ministério Público para que assegurem celeridade e dedicação nas investigações desse bárbaro crime que tirou a vida de uma mulher lutadora, com vasto histórico de serviços prestados à comunidade”, disse Alice na ocasião.

Na quarta-feira (13), o deputado federal Jorge Solla (PT-BA) também denunciou o grave crime contra os direitos humanos.

 

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