Entre vistas

Racismo: ex-consulesa francesa diz que o Brasil vive ‘apartheid cordial’

Alexandra Loras ficou no Brasil para lutar contra o racismo estrutural que se manifesta de forma 'sutil' em todos os meios, seja nas empresas, na mídia ou na loja de brinquedos

Divulgação/TVT

Loras usa seu lugar privilegiado para falar às elitistas brasileiras sobre a importância do combate ao racismo

São Paulo – Ex-consulesa da França no Brasil, de pai gambiano e mãe francesa, Alexandra Loras decidiu continuar em terras brasileiras para denunciar o racismo estrutural e a inferiorização da mulher negra, não só aqui, mas em todo o mundo. Convidada do programa Entre Vistas desta terça-feira (29), às 22h, na TVT, ela diz que no Brasil o racismo se apresenta como uma forma de “apartheid cordial”, em que não é preciso placas para identificar locais de uso exclusivo para brancos e negros, como ocorria no regime segregacionista na África do Sul, ou nos Estados Unidos, antes da conquista dos direitos civis pela população negra na década de 1960.

“Eu não quero ficar quieta”, diz Loras, que preferiu abrir mão dos privilégios, como futura embaixadora francesa em outros países, para “ajudar o Brasil a acordar sobre essa dívida histórica e enxergar esse apartheid cordial”. Ela diz que a nossa estrutura de segregação racial é, ao mesmo tempo, tão sutil e sofisticada que a maioria da população negra naturaliza a dominação existente.

Além do apresentador do programa, o jornalista Juca Kfouri, também participaram da entrevista a integrante da Frente Alternativa Preta Adriana Cássia Moreira e o diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri. 

Num país com uma população de maioria negra, ela cita como exemplo dessa sutil dominação o fato de não haver super-heróis ou bonecas negras na maioria das lojas de brinquedos no Brasil. A exclusão se repete também na literatura – da infantil à acadêmica – e também nos meios de comunicação, onde é ínfima a participação dos negros em revistas de moda ou programas de TV.

Perguntada sobre a questão racial também latente em seu país, Loras diz que, devido aos ataques terroristas, o debate do racismo foi completamente silenciado na França nos últimos tempos. Ela também denunciou a ação colonialista das potências europeias sobre os povos africanos, que persiste, desde o século 19, ainda hoje, com outras roupagens mais sofisticadas. “Eu sei que o meu país está extraindo todo o urânio e petróleo desses países. Só que não tem diálogo, não tem como conversar.”

Ela ainda destacou que a França é o segundo maior produtor de armas do mundo e que se beneficia da instabilidade política que resulta em conflitos ao redor do globo. Segundo ela, não são os produtos de luxo – bolsas Louis Vuitton, perfumes Channel ou o champanhe – que fazem a riqueza do seu país natal.

Assista a íntegra

Por aqui, devido ao prestígio do cargo que ocupou, e também pelo fato de ser francesa, conseguiu se fazer escutar nos círculos da elite brasileira. Alexandra, que também é cientista política e socióloga, defende um modelo de ativismo global antirracista, citando como exemplo a atuação da militante norte-americana Angela Davis, da escritora nigeriana Chimamanda Adichie ou da ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama.

Agora, por meio do serviço de consultoria a empresas brasileiras, ela busca levar o combate ao preconceito para o mundo dos negócios. “Meu objetivo é abrir o diálogo com essas empresas, e fazer enxergar o preconceito que existe dentro de nós. O racismo não existe apenas dentro do vizinho, dentro do Willian Wack ou do Bolsonaro, ele existe dentro de todos nós.”

Entre Vistas vai ao ar todas as terças-feiras, às 22h. Pode ser visto no Youtube (www.youtube.com/redetvt) e na página da TVT no Facebook.

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