mais mortes

Decreto sobre armas pode elevar feminicídios e suicídios, aponta Sou da Paz

Para coordenadora do instituto, mudança na legislação fomenta ainda mais o mercado ilegal de armas de fogo

Fernando Frazão/Agência Brasil

‘Maior parte de agressões acontecem dentro de casa e, com uma arma, tem maiores chances de acabarem em morte’, diz ONG

São Paulo – O Instituto Sou da Paz acredita que o decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) que facilita a posse de armas de fogo aumentará ainda mais os casos de feminicídio e suicídio, além de fomentar o mercado ilegal. Ainda que a medida do novo governo se refira apenas à posse e não ao porte (andar com as armas), Natália Pollachi, coordenadora de projetos do Sou da Paz, diz que isso não significa que o número de mortes não vai aumentar, em especial os feminicídios.

“A maior parte das agressões contra mulheres acontece dentro de casa e colocar uma arma nessa dinâmica só vai fazer com que a escalada nas agressões – que em geral tem início com a verbal e dá sinais para que a vítima possa procurar ajuda antes de acontecer algo pior – se dê mais rapidamente, indo para uma agressão letal”, explica, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

O decreto também aumentou o prazo para renovação do registro para dez anos – que requer um teste psicológico para garantir que a pessoa possa manusear a arma. Para a especialista, a mudança é perigosa e pode elevar a taxa de suicídios. “É um tempo muito longo para realizar os testes psicológicos. Milhares de coisas acontecem durante uma década na vida de alguém”, afirma.

Reportagem da Agência Brasil mostra que para ter uma arma em casa, o gasto mínimo é de R$ 3,7 mil. Natália diz que além de beneficiar apenas uma pequena parcela da população, o decreto fomenta mais o mercado ilegal de armas de fogo.

“A gente vê não só nas pesquisas do Sou da Paz mas também nas CPIs da Câmara e da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) que a grande maioria das armas apreendidas no cometimento de crimes tem origem no mercado legal. São armas que foram legalmente adquiridas e depois foram desviadas, furtadas e acabaram alimentando a criminalidade”, aponta. “Esse trânsito entre o mercado legal e ilegal é mais fluido do que imaginamos. Considerando que o decreto ainda permite quatro armas, se a pessoa tem mais de uma, alguma outra estará desassistida na casa de praia ou em um sítio no interior e pode ser roubada. A circulação vai aumentar no mercado ilegal”, explica.

O Sou da Paz publicou uma nota, na última terça-feira (15), contra o decreto e vai iniciar uma campanha contra a flexibilização da lei e por um investimento maior nas políticas de segurança pública.

A organização lembra também que uma pesquisa recente do Datafolha, publicada no último dia 31 de dezembro, mostra que a população rejeita facilitar o acesso a armas de fogo: 61% se colocaram contra a medida.

Confira a íntegra da entrevista:

Leia também

Últimas notícias