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Boulos: ‘Arma dentro de casa é menos segurança, especialmente para a mulher’

Em ato-debate sobre a política governamental de armar a população, líder do MTST chamou a atenção para o fato de que armas não trazem segurança: 'Bolsonaro mente'

divulgação

Ato-debate aconteceu no vão livre do Masp, em São Paulo

São Paulo – O decreto do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que facilita a posse de armas de fogo no Brasil foi objeto de debate na noite de ontem (22), no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, em São Paulo. O ato-debate Menos Armas, Mais Vidasreuniu o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, o rapper e ativista Ferréz e a advogada e militante dos direitos humanos Valdênia Paulino.

O encontro começou por volta das 19h30, com pequeno atraso devido às fortes chuvas que caíram durante todo o dia na capital paulista. E aconteceu ao mesmo tempo da manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô. O MPL fez passeata da Praça da Sé, no centro, até a Paulista, onde os dois grupos se uniram, já por volta das 21h.

Boulos começou sua fala saudando o MPL: “Estão na luta justa contra o aumento abusivo na cidade de São Paulo”. Em seguida, falou brevemente da importância da luta indígena contra retrocessos, lembrando da ativista Sonia Guajajara, que foi candidata à vice-presidência na chapa liderada por ele pelo Psol nas eleições de 2018.

O líder do MTST comentou a atual situação do governo de extrema-direita de Bolsonaro. “O sentimento, quando ele foi eleito, foi de medo, de desesperança, de derrota, de que não tinha luz no fim do túnel. Parecia que eles eram invencíveis. Naquele dia duro, 28 de outubro, Pepe Mujica (ex-presidente do Uruguai) disse que nenhuma vitória é definitiva e nenhuma derrota também. O que não esperávamos é que tão brevemente o castelo de areia da imagem do mito começasse a cair.”

“O que parecia ser um caso de assessor laranja está cada dia parecendo algo muito mais grave, de envolvimento com milícia, crime organizado e lavagem de dinheiro. Vamos seguir cobrando investigações, doa a quem doer. Não podemos permitir que suspendam as investigações destes crimes preocupantes que podem, inclusive, estar ligados ao próprio assassinato da nossa companheira Marielle Franco”, continuou Boulos, em referência aos escândalos envolvendo o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.

Questão das armas

Sobre o tema do debate, Boulos disse que Bolsonaro se elegeu “vendendo ilusão” para as pessoas. “Em um mês, o mito caiu. Vendeu a ideia de que ia melhorar a vida do povo, garantir que a vida fosse menos sofrida. Vendeu uma ideia, talvez a maior das ilusões de sua campanha, de que iria botar ordem na casa e acabar com a violência no país. Temos 63 mil homicídios por ano no Brasil. As pessoas, com razão, têm medo da violência. É o medo do povo que é assaltado. Bolsonaro explorou esse medo vendendo a ilusão de que mais medo e mais arma reduziria a violência.”

“Ele inventou mentiras que se traduziram no decreto da semana passada que estimulou este debate a trazer informações, porque a questão está sendo tratada, intencionalmente, de forma superficial pela maior parte da mídia”, completou.

Boulos citou o que considera serem três argumentos falsos a respeito da discussão sobre a disseminação de armas de fogo na sociedade. “A primeira mentira é de que os países com armas são os mais seguros. Usam como exemplo os Estados Unidos, mas a taxa de mortes por armas de fogo lá é 25 vezes maior do que a média dos outros países desenvolvidos. Mais armas, significa mais mortes. Os países mais seguros do mundo tem proibição do comércio de armas, o Japão é o maior exemplo disso. Tiveram seis mortes por armas de fogo em um ano. O comércio é proibido e altamente controlado. É insanidade achar que mais arma traz mais segurança.”

“A segunda mentira que eles usam é que arma em casa garante segurança da família. Primeiro, os assaltos, quando o assaltado possui arma de fogo, têm índice 56% maior de chance de morte. É alguém que vai reagir, muitas vezes sem preparo. Também precisamos apontar o risco especial para as mulheres. Boa parte da violência contra as mulheres acontece dentro de casa, 85% da violência doméstica contra a mulher é praticada por maridos ou ex-maridos. Com arma em casa, é de se prever o aumento de feminicídios.”

Por fim, Boulos apontou a “terceira mentira”. “Falam que se você legaliza o comércio de armas reduz o comércio ilegal. Mentira, porque a arma ilegal não nasce ilegal, nasce do comércio legal e é desviada. Com mais armas no mercado, vai ter mais desvio. O que precisa ter, neste caso, é maior controle na produção.”

Valdênia também fez seu discurso analisando argumentações, que considera falsas, de Bolsonaro. “Fez sua campanha mentirosa pautada na segurança pública, subestimou a capacidade das instituições policiais. Se eu acredito de verdade na polícia, na gestão da segurança, não armaria a população. Presidente, você não nos representa. Saímos de casa para trabalhar e não para virarmos assassinos. Se tem um grupo envolvido com o crime, com a milícia, é ele.”

“Quando este presidente, por meio de um decreto, diz que não respeita as polícias, tenta nos apavorar. Ele não respeita o Congresso, porque promoveu essa alteração por decreto”, completou.

Já Ferréz fez uma ode à paz. “Tem muita morte, muita tragédia. Já sabemos aonde isso vai dar. Então, vou aproveitar meu tempo para falar algo muito importante: precisamos liberar o afeto. Temos que começar a matar o argumento do ódio com o afeto. Não adianta, o ódio não tem limites. Liberar o afeto é mais difícil”, defendeu. “Não podemos nos calar. Somos os multiplicadores, somos a esperança do país. Quando nos calamos, matamos o argumento. Precisamos falar contra armas, racismo, homofobia. O argumento é a humanidade. Trazer a pessoa para a sua luta.”

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