Campanha

‘No Meu Bule Não’ quer conscientizar população sobre Quilombo Campo Grande

Ideia é convencer consumidores a não comprar marcas de café vinculadas a interesses de 'barão do café' que quer arrendar a terra para expandir sua produção

divulgação

Há 20 anos no local, agricultores do Quilombo Campo Grande podem ser despejados a qualquer momento

São Paulo – Uma campanha independente no Facebook, intitulada “No Meu Bule Não”, foi lançada na semana passada para conscientizar a população sobre o despejo de 450 famílias do Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais, por interesses ligados à grande indústria do café. As famílias denunciam que interesses econômicos do “barão do café” João Faria da Silva estão por trás do despejo. A empresa do fazendeiro quer arrendar a terra para expandir seu cafezal, de acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Os organizadores da campanha “No meu Bule Não” pedem para que os consumidores evitem comprar as marcas de café vinculadas de alguma forma a João Faria da Silva, proprietário de mais de 18 milhões de pés de café e um dos maiores exportadores do produto do país.

“Segundo o próprio, em entrevista publicada em sites e revistas do agronegócio e de produtores de café, empresas como a Nestlé e a Jacob’s Douwe Egberts – dona das empresas Douwe Egberts e da Mondeléz – são seus maiores compradores, donos de marcas como Nespresso, Nescafé, Caboclo, Pilão, Café Pelé, Café do Ponto, L’OR, Damasco e Senseo, entre outras.”

A campanha é inspirada no Boycott, Divestment and Sanctions (BDS) Movement, que atua em movimentos de pressão a artistas para não se apresentarem em Israel, devido à questão palestina. “Outro movimento, o FOA (Friends of Al Aqsa) tem uma campanha chamada #NotInMyFridge, que consiste em boicote a produtos da Coca-Cola, que produz em território ocupado na Palestina.”

O juiz Walter Zwicker Esbaille Júnior, da Comarca de Campos Gerais (MG), determinou o despejo no último dia 7. O MST está articulando seus advogados para contestar a decisão e as famílias prometem resistir à ação. Em 2016 foi feito um acordo de recuperação judicial, apesar de a falência já haver transitado em julgado, e a maior parte da área foi arrendada a Faria, segundo o movimento.

De acordo com a campanha, em 20 anos os agricultores assentados na localidade investiram cerca de R$ 20 milhões em estrutura e plantações. “Hoje produzem cerca de 510 toneladas de café Guaií por ano. O despejo também deve prejudicar a cidade, já que muitos alimentos comercializados são produzidos no quilombo”, dizem os organizadores.

A Ação Reintegratória de Posse nº 002411188917-6 foi requerida em 2011 pela massa falida da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), antiga administradora da Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool S/A. Parado na Justiça por cinco anos, o processo ganhou força após a homologação, em 2016, do plano de recuperação judicial da Capia, dezesseis anos após a falência da empresa ter sido decretada.

Conhecida como Fazenda Ariadnópolis, a área é disputada desde 1998 pelo MST, que defende sua destinação para a reforma agrária.

Visite a página da campanha no Facebook.

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