Segurança pública

‘Licença para matar’ proposta por Doria é criticada por comando da PM e ouvidoria

Ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, afirma que aumentar a letalidade policial não diminui a criminalidade. 'Essa fala vai na contramão do esforço do atual comando militar', diz

LEON RODRIGUES/SECOM

Discurso de Doria vai contra o “Método Giraldi”, baseado no tiro defensivo e regra da PM de São Paulo desde 1998

São Paulo – Em uma estratégia de se aproximar do discurso de Jair Bolsonaro (PSL), o candidato tucano ao governo do estado de São Paulo, João Doria, declarou na última segunda-feira (1º) que, se vencer, a polícia vai começar a “atirar para matar”. A fala foi criticada pelo atual comandante-geral da Polícia Militar, coronel Marcelo Vieira Salles, e também pelo ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Benedito Mariano.

“É uma fala equivocada e infeliz, que não diminui a violência e a criminalidade, e pode, direta ou indiretamente, influenciar no aumento da letalidade policial. Essa fala vai na contramão, inclusive, do esforço do atual comando militar em diminuir a letalidade policial”, disse Mariano, em entrevista ao jornalista Rafael Garcia, na Rádio Brasil Atual.

O ouvidor explica que, desde 1998, a polícia de São Paulo utiliza o “Método Giraldi”, baseado no tiro defensivo visando à proteção da vida. “A arma de fogo só pode ser disparada por policial em situação em que se torna necessário e indispensável como último recurso”, diz Mariano. “O policial de São Paulo não é autorizado a atirar pra matar.”

Segundo o método, o tiro do policial deve ocorrer quando for “estritamente necessário para proteger e garantir a vida, a liberdade, a segurança das pessoas, incluindo a segurança do policial”.

Desde 2014, a letalidade policial cresce no estado de São Paulo. Em 2017, foram 939 pessoas mortas por intervenção policial, o maior índice desde 1996, quando a Secretaria de Segurança Pública (SSP) começou a contabilizar a letalidade policial.

Para Mariano, é preciso fortalecer a visão de uma polícia que evite o crime, com policiamento preventivo e comunitário, além da valorização do policial – a base da polícia de São Paulo tem hoje o 23º salário no ranking do país. “Isso sim vai refletir na diminuição da criminalidade no estado de São Paulo.”

Ouça a íntegra da entrevista: