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‘Política de guerra’ do Estado contribui para o fortalecimento de facções no Brasil

'A guerra – a máquina de guerra – é uma política fracassada que precisa ser revista com urgência', afirma um dos autores de livro que aborda a ascensão do PCC em São Paulo e o mundo do crime no Brasil,

CC 2.0 Marco Gomes/Reprodução

Maior facção criminosa do Brasil, o PCC possui hoje 30 mil membros em diversos estados e tenta expansão além da fronteira

São Paulo – As políticas de encarceramento em massa, a multiplicação de presídios, a violência policial e o baixo investimento em investigação criminal, explicam alguns dos motivos, segundo pesquisadores, para o fortalecimento e expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC) sobre São Paulo e outros estados brasileiros, evidenciando a fragilidade do modelo de segurança pública adotado no país. “A guerra e a máquina de guerra é uma política fracassada que precisa ser revista com urgência”, sugere o jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP) Bruno Paes Manso.

Surgido em 1993 em presídios de São Paulo, o PCC, maior facção criminosa do país, possui hoje cerca de 30 mil membros em todo o Brasil. O grupo domina o mercado de drogas e o sistema prisional de 8 estados e disputa o controle em outras 13 unidades federativas, incluindo o Distrito Federal.

Crítico às políticas de “guerra ao crime”, travestidas de segurança pública, ao policiamento ostensivo e violento nas periferias e as afirmações do governo que negam a existência da facção, Paes Manso, um dos autores do livro A Guerra: A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil, vê a articulação do PCC dentro das “brechas” criadas pelo próprio Estado. “Dá margem a um discurso sedutor do crime falando ‘olha, já que o sistema que nos exterminar, vamos para cima do sistema’. Então você cria brecha para um discurso antissistema vinculado ao crime”, afirma.

A Pastoral Carcerária, entidade ligada à Igreja Católica, aponta ainda que, a forma como opera o sistema penal e o poder público, dá condições para o crescimento das organizações criminosas, sobretudo pela política de “guerra de combate às drogas” que infla as adesões ao PCC nos presídios. “A descriminalização desse comércio e a descriminalização do uso teria um impacto significativo no sistema prisional. Quase 70% das mulheres seriam desencarceradas e uma redução quase 33% do número de homens presos”, analisa o assessor jurídico da Pastoral Carcerária Paulo César Malvezzi Filho.

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