austericídio histórico

‘Aqui é sim de responsabilidade do governo federal’, afirma diretor do Museu Nacional

Alexandre Kellner criticou, ao lado do reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, falta de verbas e descaso do poder público com museu que pegou fogo

Tomaz Silva/Agência Brasil

A UFRJ,administradora do museu, sofre com falta de verbas. Descaso atinge também outros prédios da instituição

São Paulo – O diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexandre Kellner, concedeu na tarde de hoje (3) entrevista coletiva sobre o incêndio que, neste domingo, destruiu grande parte do acervo da instituição, além de ter comprometido a estrutura bicentenária do prédio. “Precisamos de ajuda, clamamos por ajuda. Já falamos muitas vezes isso. Que as pessoas fiquem indignadas. Aqui é sim de responsabilidade do governo federal”, disse.

Kellner falou sobre como o descaso com a instituição e baixos orçamentos influenciaram na perda do patrimônio. “O governo federal é quem tem os recursos e estamos implorando. Basta bom senso. Temos que agir, convencer o governo federal”, disse. O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, reiterou que a sociedade precisa ficar atenta com a elaboração do orçamento do ano que vem. Caso venham mais cortes e mais austeridade, outros museus podem estar em risco.

A UFRJ é a administradora do museu, e sofre com falta de verbas. “É importante falar sobre o orçamento da União em 2019. A sociedade vai aferir a importância conferida ao Museu Nacional, à cultura e à memória. Será no orçamento aonde vamos constatar se teremos ações objetivas ou se vamos passar dias de tristeza, indignação e sofrimento até a próxima tragédia”, afirmou. Leher ainda alertou sobre outros prédios em situação de risco da universidade. “Tem outras áreas vulneráveis, como o Hospital Universitário, o Centro de Ciências da Saúde e o próprio prédio da reitoria.”

O reitor e o diretor concordaram com ações imediatas a serem tomadas no local. Entre elas, a incorporação de um terreno ao lado do museu. De acordo com Kellner, essa é uma demanda antiga e poderia ter evitado tragédia maior.

“Não estou mais pedindo, exijo o terreno contíguo. Precisamos também de recursos imediatos para dar segurança a esse terreno. Isso é barato. Também precisamos de contêineres para que o mínimo do museu possa ser reestabelecido. Depois disso, uma análise da estrutura e, no orçamento, uma verba substancial para os museus”, reforçou.

Leher contou que, em 2015, foi atrás de um financiamento junto ao BNDES para reformas estruturais no museu. Ironicamente, parte dos recursos, que começavam a ser liberados, iriam para a prevenção de incêndios.

“Em 2015, destacamos problemas no telhado. Uma parte a UFRJ fez com seus próprios recursos. Mas era necessário mais recursos para cuidar de patologias estruturais e, sobretudo, revitalizar o sistema de prevenção de incêndio. Esse foi um dos itens mais destacados. Estávamos prevendo isso. Todos sabíamos que o prédio estava vulnerável.”

O reitor enfatizou que o cenário de destruição “era muito provável”. “Sabemos que prédios tomados necessitam sistematicamente de recursos. Museus são espaços que os povos constroem para poder pensar no passado e olhar para o futuro. Nossos museus, infelizmente, não dispõem de recursos compatíveis com a importância deles. Esse museu tem o maior acervo da América Latina. Tem nossa formação histórica (…) Nós não dispúnhamos e não dispomos de recursos no orçamento da UFRJ para fazer intervenções dessa importância. Sem dinheiro, todo o patrimônio público museal, nossos laboratórios, todos correm riscos.”

Embate nas redes

A um mês das eleições, o tema do incêndio no Museu Nacional ganhou destaque no mundo da política. Muitos criticam as políticas de austeridade adotadas pelo governo de Michel Temer (MDB), como a Emenda Constitucional 95, conhecida como ‘PEC do Teto’. Ela congela investimentos em áreas como cultura e educação por 20 anos.

Um dos críticos foi o candidato à presidência pelo Psol, Guilherme Boulos. “O orçamento do Museu Nacional neste ano foi o menor da última década, resultado da política de cortes de investimentos do governo Temer. O abandono e o descaso evidentemente aumentam os riscos de tragédias como a de hoje”, disse.

A crítica de Boulos não passou em branco. O jornalista Marcelo Tas saiu em defesa de Temer, mesmo sem apresentar um argumento oposto. “Este patrimônio de 200 anos sofre de negligência do GOVERNO TEMER? Tem certeza que escreveu isso? Você é um tremendo CARA DE PAU, um enganador. Que alívio saber que apenas 1% dos eleitores cai no seu blablablá, impostor! (…) Há documentos com alerta de incêndio de 2004”.

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