Pesquisa

Paulistano quer políticas públicas de renda, acolhimento e inclusão

Pesquisa Viver em São Paulo mostra apoio da população ao Programa Renda Básica de Cidadania, ao acolhimento de pessoas em situação de rua e à atuação conjunta para dependentes químicos

reprodução/Viver em São Paulo

Pesquisa concluiu que paulistanos estão abertos à criação de políticas públicas, mas ainda têm visão punitivista

São Paulo – A maior parte dos paulistanos apoia a ampliação de políticas públicas de assistência social como caminho para melhorar as condições de vida da população em situação de rua, crianças e adolescentes, dependentes químicos e mulheres vítimas de violência. A constatação é da pesquisa Viver em São Paulo, realizada pelo Ibope e a Rede Nossa São Paulo.

Segundo o levantamento, 55% dos entrevistados apoiam a criação do Programa Renda Básica de Cidadania, proposta do vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT), que consiste em um benefício assistencial para todas as pessoas que vivem em São Paulo há pelo menos cinco anos.

“A gente queria saber como o paulistano entende essa proposta e foi importante saber que a maioria é favorável à implementação da Renda Básica de Cidadania”, explicou o coordenador de projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio. A pesquisa ouviu 800 pessoas, que podiam escolher alternativas por critério de importância.

Para a população em situação de rua, a maioria dos paulistanos defende ampliação de oferta de centros de acolhida e de cursos de capacitação profissional em conjunto com políticas de incentivo a contratação dessas pessoas por empresas e comércios. A sondagem revela, assim, que o paulistano médio não endossa práticas conhecidas como “higienismo”, que se limita a retirar esse segmento da população da “paisagem” urbana, sem dar-lhe uma opção digna de acolhimento e reinserção.

O desenvolvimento de políticas públicas transversais de Saúde, Segurança, Assistência Social, Educação, Trabalho e Renda para dependentes químicos é apoiado por 53% dos paulistanos. Nesse caso, ganha força a defesa do combate ao tráfico de drogas, com apoio de 59%.

O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, no entanto, não comemorou esse resultado. Ele avalia que a pesquisa, e os entrevistados, partem de premissas conservadoras ao pensar o que é a política pública, aceitando respostas generalistas do poder público.

“Precisamos produzir humanização. Hoje, os centros de acolhida têm uma régua na porta e só quem se adéqua é aceito. A política socioassistencial não está resolvendo os problemas, pois querem que todos ‘usem os mesmos sapatos’. Mas cada pé é de um jeito”, afirmou.

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Outras edições da pesquisa Viver em São Paulo

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Lancellotti ressaltou que as políticas de atendimento à população em situação de rua são praticamente as mesas há 40 anos. “As únicas coisas que evoluíram nesse período foi a instalação de tomadas para recarga de celulares e alguns locais que têm abrigos para animais. Isso não é humanização do atendimento”, destacou.  

Os paulistanos apoiam amplamente políticas públicas direcionadas a crianças e adolescentes. São 97%, quase uma unanimidade, os que concordam com ações de estímulo ao primeiro emprego e 90%, com a oferta de ensino em tempo integral.

Além disso, 82% se mostraram favoráveis à ideia de que a aplicação de medidas socioeducativas são a melhor alternativa para as crianças e adolescentes que desrespeitaram as leis. Por outro lado, 78% discordam da ideia de que trabalhar seja mais importante que estudar.

Um dado preocupante, segunda a organização, foi o apoio de 63% dos moradores da capital paulista à ideia de que a palmada contribui para educação e formação das crianças e adolescentes. “Isso é particularmente preocupante quando entramos no campo institucional, onde esse tipo de ideia vai favorecer à prática da tortura em unidades de restrição de liberdade”, disse Adriana Palheta, mestre em Políticas Públicas para o Adolescente em Conflito com a Lei pela Universidade Bandeirantes.

Em relação às ações para combater a violência contra mulheres, o punitivismo foi mais presente nas respostas dos entrevistados. O aumento das penas foi a principal medida escolhida por 53% dos entrevistados. Logo em seguida veio a ideia de agilizar o andamento da investigação das denúncias com, 42%, e só então a ampliação dos serviços de proteção de mulheres em situação de violência em todas as regiões da cidade, com 40% de menções.

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