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Falta de educação e de investimentos desafiam ciclistas na cidade de São Paulo

Sem investimentos desde o início da gestão Doria/Covas, infraestrutura cicloviária é alvo também do desrespeito de motoristas e motociclistas que invadem as vias reservadas às bicicletas

Helder Lima/RBA

Trecho de ciclovia no Anhembi, zona norte de São Paulo: acumulo de água de chuva cria situação de risco para o ciclista

São Paulo – Depois da forte expansão durante a gestão de Fernando Haddad, as ciclovias de São Paulo estão em mau estado de conservação, praticamente sem investimentos da administração Doria/Covas, desde o início de 2017. Além disso, motoristas e motociclistas invadem as ciclovias para desembarcar passageiros ou desviar do trânsito, reforçando um sentimento de que essa infraestrutura ainda não está devidamente integrada à vida da cidade.

Alguns motoristas chegam até mesmo a estacionar na ciclovia e trancar o veículo. Um ciclista afirmou à reportagem da RBA que ao passar pela alameda Nothmann, no centro de São Paulo, foi esbarrado por um Volkswagen Fox que o ultrapassou enquanto ele desviava de um táxi estacionado na ciclovia. “A motorista do Fox usava uma camisa da seleção brasileira”, afirmou, “e foi embora como se nada tivesse acontecido”.

Situações como essa são corriqueiras na cidade. Falta educação no trânsito para a convivência pacífica entre as diferentes modalidades de transporte e para que ciclistas e pedestres, que são os elos mais frágeis do trânsito, também tenham segurança.   

As melhorias na infraestrutura cicloviária na cidade exigiriam não apenas obras de manutenção de pavimento, mas também algumas correções. Na ciclovia da avenida Olavo Fontoura, na zona Norte da cidade, onde fica localizado o complexo de eventos do Anhembi, o ciclista atravessa um retorno e tem de passar com cuidado entre postes semafóricos, que não chegam a ficar no meio da ciclovia, mas deixam uma passagem relativamente estreita. Acumulo de água de chuva também representa outro problema nesse trecho.

Outros trechos exigiriam intervenções mais simples, como uma limpeza. Esse é o caso da Rua Lopes Trovão, no Bom Retiro, centro, onde os ciclistas dividem a ciclovia com lixo e entulho, o que no mínimo amplia o risco de um pneu furado.

Também falta iluminação nas ciclovias. À noite, quando as pessoas usam a bicicleta para lazer, depois do expediente de trabalho, o ciclista encontra muitos trechos escuros e que dão uma sensação de insegurança. Andar em grupo, entre amigos, pode ser uma solução para atenuar essa sensação, mas isso não dispensa a necessidade de iluminação.

Outro problema, ainda, é que enquanto há bairros centrais bem servidos de ciclovias, outros na periferia ainda não foram contemplados, como nestes exemplos: Jaçanã e Tremembé, na zona norte, têm 1,1 quilômetro de ciclovia; já o Butantã, na zona oeste, abriga 39 quilômetros. O bairro de Cidade Ademar, na zona sul, também conta com 1,1 quilômetro de ciclovia, e a região da Sé tem 45 quilômetros.

Além de equalizar esse desequilíbrio entre os bairros, o futuro prefeito de São Paulo – porque a atual gestão não dá sinais de se interessar pela mobilidade com a bicicleta – precisará fazer mais ligações entre as vias já existentes para expandir a malha cicloviária, recuperando o tempo perdido pela atual gestão. A cidade tem um plano negociado com a sociedade, que prevê a expansão da malha cicloviária para 1.700 quilômetros até 2030. O prefeito Haddad entregou a cidade com 420 quilômetros, marca que se mantém, e no mínimo demanda manutenção e melhorias.