Memória

Acervo de Marco Aurélio Garcia chega ao arquivo da Unicamp

Doação atende a um desejo pessoal do professor e ex-assessor especial da Presidência, que morreu no ano passado

Unicamp

Documentação foi “organizada com o esmero de alguém consciente da importância que ela viria a ter como fonte de pesquisa”

São Paulo – Chegou nesta semana ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o acervo pessoal do professor Marco Aurélio Garcia, que morreu em 20 de julho do ano passado, aos 76 anos. Ele lecionava no Departamento de História da instituição. Também foi assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais.

Segundo a Unicamp, era um desejo pessoal do professor ter seu acervo doado para o AEL, ligado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. “A documentação reflete a trajetória do militante político, fundador do PT, acadêmico, estudioso das organizações de esquerda e assessor especial dos governos Lula e Dilma para Assuntos Internacionais – e está organizada com o esmero de alguém consciente da importância que ela viria a ter como fonte de pesquisa.”

O diretor adjunto do Arquivo, professor Aldair Carlos Rodrigues, conta que Garcia já se preocupava com a doação. “Seu filho, Leon, foi muito generoso ao mostrar tudo o que o pai havia acumulado em um apartamento na Praça da República, que creio ter sido destinado explicitamente para reunir esse material”, afirma.

“A documentação está bem organizada, vendo-se um norte no sistema de classificação dos documentos. Com sua entrada no governo Lula, o material fica um pouco fragmentado, mas há uma ordem mesmo no caos aparente, pois ele sabia que tudo se tornaria parte de um acervo institucional”, observa o diretor. Percebemos essa intenção no uso de etiquetas ao guardar documentos diversos, no modo como compilava notícias, rascunhava projetos etc.”

Marco Aurélio Garcia foi o primeiro diretor do arquivo criado a partir da coleção de Edgard Leuenroth, um jornalista e militante anarquista do início do século passado. É o que lembra o ex-diretor do AEL Claudio Henrique de Moraes Batalha. “Na época, ainda sob a ditadura militar, o AEL era um órgão quase clandestino dentro da estrutura da universidade, até por questões de segurança. Posteriormente, e em grande parte pela atuação de Marco Aurélio, vão sendo incorporados outros acervos, vários deles ligados a militantes de esquerda. Ele foi responsável por um dos mais ambiciosos projetos para centros de documentação apresentados à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), na década de 1980, inaugurando na instituição a máxima de que ‘o céu é o limite’, que o AEL deveria ser tão grande quanto sua capacidade de preservar a memória e que as limitações prediais e técnicas não podiam conter o seu crescimento.”

Quem também recorda de Garcia é o professor Ricardo Antunes, do Departamento de Sociologia, que em 1986 foi convidado para ser adjunto do Arquivo. “Sua atuação como historiador da classe operária e da esquerda, inclusive a armada, está marcada na historiografia brasileira dos anos 70 para cá. Pena que não tenha escrito mais.”

Antunes lembra que, apesar de atuar em “campos próximos”, os dois tinham diferenças acentuadas na época. “Ele justificou que eu era um dos que mais conhecia o arquivo, que vasculhei para o meu mestrado. Marco Aurélio tinha uma afetividade pessoal extasiante, eu não tinha qualquer motivo para dizer não – e a partir daquele momento selamos uma amizade espetacular.”

O professor e sociólogo identifica quatro personagens decisivo para a história do Arquivo. “Marisa Zanatta, então jovem diretora técnica e que por décadas guardou os documentos como preciosidades (um arquivo não existe sem o trabalho cotidiano de preservação); Paulo Sérgio Pinheiro e Michael Hall, que evitaram, em plena ditadura, que a coleção original Edgard Leuenroth saísse do país para os Estados Unidos; e Marco Aurélio Garcia, que tem nesse arquivo a sua fotografia multifacetada, rica e colorida.”

Batalha recorda do período em que Garcia esteve no exílio, inicialmente no Chile, no início dos anos 1970, e depois na França, depois do golpe no país sul-americano, em 1973. “No Chile ele teve relações próximas com várias organizações, em particular com o MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária). Mais tarde, ainda no exterior, estabeleceu ligações com a esquerda europeia. Seu acervo, portanto, reflete esses aspectos do militante político, do estudioso da esquerda e depois do integrante do governo como assessor especial da Presidência da República ligado às relações internacionais.”

Com informações da Unicamp. Leia aqui o texto completo

 

 

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