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Biblioteca virtual celebra 90 anos de Pedro Casaldáliga

Livros, artigos, textos, cartas, e até músicas – em português e espanhol –, que definem a personalidade humanista e revolucionária do religioso podem ser acessadas e baixadas gratuitamente

Wilson Dias/Agência Brasil

Nascido em em Barcelona, Dom Pedro mudou-se em 1968 para o Mato Grosso. Desde então se dedica a defender as populações vulneráveis contra o avanço do agronegócio

Desde criança, odiava até os estilingues contra os pardais. Nunca disparei um tiro não penso em fazê-lo jamais. A guerra – porque a vivi em menino – não tinha como me entusiasmar. “Jogos Proibidos” é um dos filmes que mais me marcou. Às vezes me empolgaram, sim, à distância glorificadora do passado, os “grandes” feitos bélicos da História. E senti minhas simpatias por combatentes. E tive e tenho ainda – distante – bons amigos militares. (Distante, assinalo.) Aqui, próximo, os militares são meus “inimigos”: à medida que são inimigos do povo. Porque estão a serviço do capitalismo e da ditadura; porque vivem de forma servil por trás de uma máscara de assistencialismo, para “projetos de impacto”, para a repressão e até para a tortura. Não falo de memória, mas do que meus olhos viram.

São Paulo – O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, que chegou ao Brasil há 50 anos, tem vasta obra literária e filosófica em que define sua personalidade humanista e revolucionária. São dezenas de textos, livros, artigos, cartas, e até músicas, em português e espanhol.

Toda esta produção está agora ao alcance do público já que, por ocasião de seus 90 anos, comemorados neste 16 de fevereiro, o organizador da obra do religioso, José María Concepción Rodríguez, acaba de lançar a Biblioteca Virtual de Pedro Casaldáliga. Para acessar basta clicar aqui. 

Nascido em Balsareny, em Barcelona, Dom Pedro ingressou na Congregação Claretiana (Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria) em 1943. Mudou-se em 1968 para o estado brasileiro do Mato Grosso, uma região de intensos conflitos pela posse da terra, comandados por latifundiários contra as populações locais, sacrificando sobretudo os indígenas. Foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário.

O portal recém lançado traz toda a bibliografia do religioso e ativista dos direitos humanos, disponível gratuitamente, atendendo a pedido explícito de Dom Pedro.

Segundo Rodríguez, o acervo digital está em construção. Livros, artigos, poemas e outros conteúdos do autor estão sendo incorporados “para que toda sua obra fique garantida de forma permanente durante algumas décadas, inclusive quando já não estivermos mais aqui.”

Todos os conteúdos estão reunidos na plataforma Academia.edu e Pedro Casaldáliga tem seu próprio site ali. Os títulos podem ser baixados e internautas podem ainda contribuir com seus próprios comentários.

(…)

Falamos de Esperança ao longo de todas estas páginas porque a Esperança tem sido minha crença ao longo de toda minha vida como homem consciente. Vou destacar apenas um aspecto desta crença que alguém viveu e na qual se afirmou como na “âncora segura e sólida” (Hb 6.19): Pela formação psicológica e pelas contingências de minha biografia, a angústia sempre me acompanhou

(…)

O tempo, quando não é uma capacidade concreta de fazer, é uma capacidade perigosa de lembrar, temer e desejar. Usar o tempo dignamente, às vezes, é uma difícil virtude. Os valentes são aqueles que superam o medo; os crentes são aqueles que superaram, na Esperança, a dúvida, o terror, a amargura que os invade aqui nesta terra de peregrinação. O antídoto da angústia é a escolha, dizem os manuais. Mas a escolha nunca tem fim: vai-se fazendo hora a hora, minuto a minuto. É a fidelidade, o que nossos velhos chamavam de perfeição, o “sim, Pai”, de Jesus. A oração é o respiro da Esperança.

(Trechos do livro Creio na Justiça e na Esperança, publicado em Bilbao, Espanha, 1975)

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