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Processo de jovens presos em protesto contra Temer se aproxima do fim

Acusados de associação criminosa e corrupção de menores, denúncia ficou famosa pela participação de um capitão do Exército como agente infiltrado

Mídia Ninja

Assim como nas audiências anteriores, manifestantes foram prestar solidariedade aos jovens e seus familiares

São Paulo – Os 18 jovens detidos em São Paulo, em setembro de 2016, durante protestos contra o governo Temer (PMDB), tiveram na última terça-feira (12) a terceira audiência do processo em que são réus, acusados de associação criminosa e corrupção de menores. O caso foi marcado pela presença no grupo do então capitão do Exército William Pina Botelho, o Balta Nunes, que trabalhava como agente infiltrado e forneceu à polícia informações que levaram à prisão dos jovens.

A denúncia contra os jovens coloca objetos como gaze e vinagre na condição de possíveis artefatos usados para depredar patrimônio público e privado. Além de, segundo a investigação, serem indícios de que seriam usados para ferir policiais e outras pessoas durante a manifestação. Após a ação, o capitão William Botelho foi promovido a major.

A terceira audiência encerrou a fase de depoimentos, após os testemunhos do delegado do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fabiano Fonseca Barbeiro, do professor da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado, e de todos os 18 jovens.

Assim como nas audiências anteriores, uma manifestação se formou na frente do Fórum Criminal da Barra Funda para prestar solidariedade aos jovens e seus parentes. Ao repórter Victor Labaki, da Rádio Brasil Atual, Rosana Cunha Risaffi, mãe de Gabriel, de 19 anos, afirmou que alguns réus estão sofrendo transtornos devido ao processo.

“Mexeu muito com o psicológico deles. Muitos estão abalados e por esse motivo não aparecem, estão com pânico. Além da prisão, que já foi uma coisa extremamente forte, terrível, tem também esse lado da tortura psicológica”, ponderou. Em setembro, durante a primeira audiência, Rosana já havia dito que o estado emocional e psicológico do seu filho estava “detonado”. Na ocasião, ela revelou que o rapaz entrou em depressão, começou tratamento com psicólogo e estava tomando medicação. Segundo ela, três dos jovens já tentaram suicídio e alguns dizem preferir morrer se forem condenados.

Presente na manifestação de apoio aos réus, o ex-deputado estadual e ex-preso político Adriano Diogo disse que o processo contra os 18 jovens não possui respaldo legal. “Os direitos individuais e coletivos não foram suspensos. Está em vigência o habeas corpus, está em vigência o direito à livre manifestação, então qual a novidade desse caso? Como funcionários públicos que participaram da ação não aparecem nos autos, não aparecem quais suas funções, quais as autorizações judiciais para eles poderem participar dessa ação? Do que esses jovens estão sendo acusados e por que estão sendo acusados? É tudo muito estranho, parece uma coisa de processo ditatorial e não de processo democrático.”

Na próxima audiência, ainda sem data marcada, os promotores e advogados de defesa farão as considerações finais e, após essa etapa, a juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal do Fórum Criminal da Barra Funda (SP), já poderá proferir a sentença.

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