entrevista

‘Doria não tem noção do que é governar e não gosta de São Paulo’

O ex-secretário da pasta de Serviços Simão Pedro lançou livro sobre avanços no setor de 2012 a 2016. 'Pena que muitas coisas que conseguimos fazer em quatro anos estão sendo desfeitas'

reprodução/tt

Simão Pedro: ‘Aqueles que não sabem governar, não tem a capacidade de gestão, querem privatizar’

São Paulo – “O prefeito João Doria (PSDB) está vendo agora que governar São Paulo não é brincadeira. Não é pegar uma vassoura, colocar um uniforme e fazer cinco minutos de pose para o facebook”, afirma o ex-secretário de Serviços da cidade de São Paulo durante a gestão Fernando Haddad (PT),  Simão Pedro Chiovetti. Neste mês, ele lançou o livro Inovação nos serviços públicos na cidade de São Paulo (2013-2016), pela Fundação Perseu Abramo.

Simão Pedro falou sobre a publicação e comentou sobre este primeiro ano de gestão tucana em São Paulo. “O livro é para que não fique no esquecimento, para registrar como construímos políticas públicas com participação popular. A gestão Haddad foi muito inovadora nesta área com, por exemplo, ampliação da reciclagem, o programa Luz LED nos Bairros, com iluminação potente para reforçar a segurança, praças de wi-fi espalhadas pelas periferias.”

No esquecimento pois, de acordo com sua avaliação, Doria vem trabalhando a fim de desmontar os serviços públicos destinados aos cidadãos paulistanos. “São Paulo precisa de gestão e dedicação. Ele não conseguiu fazer nem a licitação de limpeza urbana e jogou a cidade em contratos emergenciais. Em iluminação, a mesma coisa. Governar exige dedicação e compromisso. O prefeito viaja o tempo todo. Mal assumiu e já usa a cidade como trampolim político”, disse.

“É uma pena que muitas coisas que conseguimos fazer em quatro anos estão sendo desfeitas por mero capricho pessoal e político. Minha avaliação é que ele não tem noção do que é governar São Paulo. Somado a isso, me parece que ele não gosta de São Paulo, porque já pensa em sair para disputar outros cargos”, disse Simão Pedro.

Um exemplo de descaso com a cidade – a questão da iluminação pública – é um dos temas presentes no livro. “Ele não colocou um ponto novo de iluminação neste primeiro ano. Na gestão Haddad, colocamos 18 mil novos pontos. Avançamos muito no combate ao déficit. O número de reclamações na central de atendimento do 156, por exemplo, dobrou neste ano em relação ao último período de nossa gestão. São Paulo passa por um retrocesso e espero que isso seja revertido”, disse.

Maiores desafios

Questionado sobre as políticas públicas mais difíceis aplicadas na última gestão, Simão Pedro afirmou, “sem dúvida”, que isso tem relação com a coleta seletiva e reciclagem. “Embora todos achem isso importante, exige mudança de comportamento dos cidadãos e empresas. O modelo de negócios hoje das empresas do setor é coletar, transportar e enterrar. Então, tirar São Paulo do índice de 1% apenas e chegar a 6% de reciclagem foi um processo interessante”, afirmou.

Já os 18 mil pontos de luz por toda a cidade foram citados como “de impacto direto”. “A iluminação pública traz segurança. Então, levar LED para locais como Heliópolis e M’Boi Mirim traz benefícios, em relação à segurança, fantásticos. O LED deixa a noite como o dia e isso foi muito importante.”

Simão Pedro também fez questão de citar as iniciativas ligadas à inclusão digital. “Evidente que a internet faz parte da vida das pessoas. Então, oferecer internet de qualidade, pública e com garantia de privacidade para os usuários foi muito importante”, disse em referência ao programa Wi-fi Sampa, que levou internet para praças da cidade, e o Fab Lab Livre SP, que consiste em uma rede de laboratórios públicos de última geração de tecnologia digital, como a impressão em 3D, espalhados especialmente nas periferias da cidade.

Serviço Funerário e privatizações

A introdução do livro de Simão Pedro é assinada pelo ex-prefeito Haddad. Um dos pontos citados pelo petista foi o bom trabalho da pasta de Serviços à frente do serviço funerário. O setor saiu de um déficit, em 2015, de R$ 18 milhões por ano para um superávit de R$ 3 milhões no fim da gestão. Agora, mesmo com os bons resultados do setor público, Doria pretende privatizar o serviço.

“Doria fala que a morte é a menina dos olhos do lucro dos empresários. Nós mostramos que é possível prestar um serviço público bom e de qualidade. Morrem 220 pessoas por dia em média em São Paulo. É o momento de você amparar, dar todo o apoio às famílias. Então, a morte não pode ser objeto de lucro”, disse, sobre a sanha privatista do tucano.

“Sempre gosto de lembrar uma frase do ex-presidente Lula que dizia que aqueles que não sabem governar, não têm a capacidade de gestão, querem privatizar. Pegamos o serviço funerário sucateado, com corrupção de cima a baixo. Isso não era por acaso. Quando você quer privatizar, entregar para a avidez de lucro dos empresários, você sucateia antes (…) Não faz sentido a privatização. É possível dar qualidade e conforto para as famílias que precisam neste momento de dor”, completou.

 

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