Educação em direitos humanos

CNTE lança nas escolas campanha de enfrentamento à violência contra a mulher

Com cartazes e cartilha, campanha busca ajudar na construção de uma cultura da paz. Segundo pesquisa da Flacso, 42% dos alunos da rede pública já foram vítimas de violência

Divulgação CNTE

Com o personagem Gentil, campanha busca se aproximar dos alunos e quebrar estereótipos

São Paulo – A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) iniciou no último dia 25 a campanha “Saber amar é saber respeitar”, na data que marca o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher. A campanha tem como personagem um jovem forte, com aspecto intimidador, mas que na verdade é um rapaz de “bom coração” e preocupado em ajudar os colegas. Seu nome: Gentil.

Com o cartaz “Homem que é homem combate a cultura do estupro”, os organizadores começaram a distribuir o material da campanha para escolas públicas de todo país, que inclui também uma cartilha dirigida aos professores, com orientações sobre como reconhecer a cultura do estupro e o que fazer para prevenir comportamentos que possam levar à violência contra a mulher.

“A preocupação da CNTE é fazer com que a luta contra a violência, em especial contra as mulheres, possa ser assumida não só pelos professores, mas também pelos alunos e fazer o tema ser debatido para que haja uma mudança de comportamento”, explica Isis Tavares, secretária de Relações de Gênero da CNTE.

Segundo dados do questionário da Prova Brasil de 2015, aplicado a diretores, alunos e professores do 5º e do 9º ano do ensino fundamental de todo o país, mais de 22 mil professores já foram ameaçados por alunos em salas de aula, e mais de quatro mil sofreram atentados à vida nas escolas. Em outra pesquisa, realizada em 2015 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), 42% dos alunos da rede pública foram vítimas de violência.

“É muito preocupante isso para os professores, e para a sociedade em geral, estarmos lidando na escola com um ambiente tão hostil e violento”, pondera Isis Tavares. A campanha terá até o dia 10 de dezembro o que os organizadores definem como “16 dias de ativismo”, tornando-se depois uma campanha permanente com o intuito de desenvolver práticas escolares de respeito, solidariedade, paz e inclusão da diferença.

“A ideia é que a gente promova ações de valorização da ética, do respeito, do cuidado e da segurança, para que professores, alunos e funcionários possam desenvolver essa cultura dentro da escola”, afirma a secretária de Relações de Gênero da CNTE.

Ela explica que a ideia do personagem Gentil ser um jovem forte tem como objetivo desconstruir estereótipos para mostrar que é preciso não taxar as pessoas, e sim trabalhar para educá-las. “Por que a imagem da pessoa precisa ser associada à violência? Ele não precisa ser taxado de violento porque é forte. O ideal é que o personagem dialogue tanto com os professores quanto com os alunos.”

Isis Tavares destaca que os pais geralmente veem a escola como o local onde o filho vai adquirir conhecimento para, no futuro, ter uma boa profissão e uma vida confortável, mas que não deve ser só isso. “A missão da escola é também construir um mundo melhor. Ela tem dimensões relacionais que vão além das relações físicas entre professor e aluno, também tem dimensões simbólicas. Dentro da escola acontece muita coisa e é preciso tratar esses temas para que futuramente se crie nos alunos algo que se incorpore na sua personalidade e na sua vida”, analisa.

Por isso, ela explica, a campanha “Saber amar é saber respeitar” visa dialogar com todas as faixas etárias de alunos, de acordo com suas características. “Queremos debater principalmente com as crianças. A escola é o primeiro local de socialização. Para além da casa, é na escola que se começa a socialização e a construção do conhecimento”, afirma, explicando que a tendência das escolas é tratar o tema da violência apenas de forma punitiva.

De acordo com a secretária da CNTE, já existem bons projetos sobre o tema no âmbito escolar, porém normalmente restritos a iniciativas isoladas de algum professor, sem serem institucionalizados. E para evitar que a campanha sofra algum tipo de acusação, pois em tempos de Escola sem Partido “tudo é visto como doutrinação ideológica”, os organizadores decidiram focar a abordagem no sentido da cultura da paz.

“A partir do momento em que você começa a cultivar isso, daqui a pouco você vai colher. Não é de uma hora para a outra, mas as pessoas começam a falar e se manifestar a respeito. Nosso grande objetivo é debater o assunto. E não tem como não chegar à conclusão de que a violência faz mal pra todo mundo.”

Assista à reportagem da TVT: