Pela vida

Campanha da Anistia Internacional contra genocídio de negros completa três anos

A cada cem pessoas assassinadas no país, 71 são negras, evidência de ausência de políticas públicas que contemplem a população

AF Rodrigues/Anistia Internacional

Em 2014, o lançamento da campanha Jovem Negro Vivo foi regado de arte e luta. Cenário de resistência ainda não mudou

São Paulo – Há três anos a Anistia Internacional lançava o manifesto da campanha Jovem Negro Vivo. Com mais de 60 mil assinaturas recolhidas, o texto exige das autoridades brasileiras, políticas públicas integradas de segurança pública, educação, cultura, trabalho e a garantia de uma vida livre de discriminação e violência.

Um dos principais objetivos da campanha foi romper com a indiferença da sociedade diante do cenário de violência e de violações de direitos humanos diárias sofridas por essa população no país.

“A violência contra o jovem negro morador das favelas e periferias é alimentada pelo racismo que naturaliza a violência e torna esses jovens ‘matáveis’. As autoridades brasileiras, em âmbito federal e estadual, não atuam sobre essa realidade”, afirma Jurema Werneck, Diretora executiva da Anistia Internacional.

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil é o país com um dos maiores índices de homicídios no mundo:mais de 61 mil em 2016. A cada cem pessoas assassinadas no país, 71 são negras, aponta o Atlas da Violência de 2017.

Em oitos estados do Norte e Nordeste, as taxas de homicídios entre jovens negros cresceram mais de 100% entre 2005 e 2015. O maior crescimento foi no estado do Rio Grande do Norte, quase 300%. Sergipe, Tocantins, Ceará, Maranhão, Amazonas, Bahia e Paraíba tiveram aumentos acima de cem por cento no período. 

“Debates e rodas de conversa, como as que fizemos em Natal, foram fundamentais para mobilizar, unir e trocar informações com uma juventude que resiste à violência, à falta de acesso à saúde e educação e ainda no confronto com o racismo diariamente”, afirma Marcelle Decothé, responsável pelas ações de mobilização da campanha junto a juventude.

Para celebrar o aniversário da campanha, a Anistia lançou, nesta quinta-feira (9), a ‘QuilomBOX’, uma coletânea de materiais direcionados a grupos de juventude negra e das periferias para auxiliar nos trabalhos de mobilização pela causa.

“Os estados e o governo federal falharam gravemente na luta pela redução dos altos índices de homicídios contra jovens negros e por uma política de segurança que vise preservar a vida de todas e todos. As juventudes mobilizadas durante a campanha Jovem Negro Vivo estão mais preparadas para pressionarem o poder público por seus direitos e para se articularem como forma de resistir as violações de direitos”, concluiu Jurema Werneck.