50 anos

‘Aqueles que mataram Che venceram militarmente, mas perderam politicamente’

Memorial da Resistência de São Paulo também lembrou a trajetória do revolucionário argentino que influenciou gerações de inconformados

reprodução/TVT

Che encarnou o sentimento de indignação frente às injustiças sociais, ao redor do mundo e na América Latina

São Paulo – Para o professor do Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), e co-autor do livro A Revolução Cubana: História e Problemas, Marcelo Buzetto, o revolucionário Ernesto Che Guevara foi exemplo de “coragem, ousadia e coerência”, e, apesar derrota militar que pôs fim à sua vida, há 50 anos, na Bolívia, suas ideias seguem influenciando o mundo todo e, em especial, a América Latina. 

Segundo o professor, Che “sofreu uma derrota militar, mas teve uma vitória política”. “O sacrifício do Guevara não foi em vão, e o exemplo dele permanece bastante forte. Tenho certeza de que as ideias dele ainda circulam por aí, e vão ajudar a promover muitas mudanças em muitos países da América Latina.” 

Ao longo de sua juventude, Che percorreu o continente em mais de uma oportunidade, quando tomou contato com as mazelas sociais, a desigualdade, e também com as ideias revolucionárias que frutificavam na região.

Após presenciar a derrubada de um governo reformista, na Guatemala, por forças imperialistas norte-americanas, Che segue para o México, em 1957, onde conheceria os exilados cubanos e de lá parte rumo à ilha, como médico do grupo revolucionário comandado por Fidel Castro que pretende por fim à ditadura de Fulgêncio Batista.

Vitoriosa a revolução, em Cuba, Che atua em postos postos importantes do novo governo, até partir, em 1965, para missões internacionais com o objetivo de espalhar o socialismo pelo mundo – primeiro na África e, depois, na Bolívia, onde pretendia instalar um novo foco guerrilheiro no continente, mas teve que enfrentar a resistência de cerca de 2 mil soldados bolivianos apoiados por tropas norte-americanas. Acabou capturado em 8 de outubro de 1967, e executado no dia seguinte. 

A jornalista aposentada Helle Alves, hoje com 90 anos, estava na Bolívia, como correspondente dos Diários Associados, para cobrir o julgamento do francês Régis Debray, que havia lutado ao lado de Che em Cuba, quando soube dos primeiros boatos sobre a sua morte. 

Acompanhada do fotógrafo Antônio Moura e do cinegrafista Walter Gianello, ela foi uma das primeiras pessoas a testemunhar a chegada do corpo de  revolucionário argentino, e conta que as primeiras reações da população boliviana passou de uma fúria inicial a certa contemplação quando os olhares alcançaram a figura do lendário guerrilheiro. 

“O povo chegou lá uns 20 minutos depois, gritando ‘queremos ver o assassino dos nossos soldados’. Entraram os primeiros, mais furiosos, subiram uma rampa e quando chegaram a uma distância de visualizar o corpo, pararam e mudou o assunto completamente: ‘Que lindo, parece Cristo. Como está magro, como sofreu”, relata Helle. 

Os ideais e ações do médico argentino Ernesto Che Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana, também foram tema de evento promovido pelo Memorial da Resistência de São Paulo, neste sábado (7).  que lembrou os 50 anos da morte do guerrilheiro

“Alguém que tinha ideias, mas também tinha vontade de colocar essas ideias em prática. O contato com o povo da América Latina, com o povo mais pobre, ajudou a formar a consciência e a personalidade de Guevara. A partir daí, ele entendeu que, na sociedade capitalista latino-americana, não era possível as pessoas terem uma vida de justiça. Ele descobriu que precisava se integrar a uma luta para transformar a sociedade”, diz Buzetto, no Memorial.

Mesmo após 50 anos, as ideias do revolucionário Che Guevara seguem marcando gerações de pessoas que não se conformam com a exclusão social. “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”, recita a célebre frase o presidente do conselho administrativo do Núcleo Memória Ivan Seixas. 

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