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Moradores da ocupação Mauá voltam a correr risco de despejo

Processo de desapropriação do edifício na região da Luz foi interrompido pela gestão Doria. Moradores afirmam que prédio pode ter sido supervalorizado propositalmente

reprodução/TVT

Com reformas estruturais, pintura e demais acabamentos, moradores tornaram habitável prédio abandonado

São Paulo – Cerca de mil pessoas, dentre elas 200 crianças, que vivem na ocupação Mauá, correm o risco de serem despejadas a qualquer momento. Em junho, a Justiça havia emitido nova ordem de reintegração com o prazo de 60 dias para que as famílias deixassem a ocupação. 

Essa é a quinta vez que o prédio, que fica nos arredores da estação da Luz, no centro de São Paulo, é alvo de reintegração. O edifício, que já foi um hotel e passou 20 anos abandonado, foi ocupado em 2007.

Nesses dez anos de ocupação, os moradores fizeram diversas melhorias no edifício, como pintura, reestruturação das partes elétrica e hidráulica, além de acabamento, como piso e azulejo. 

O coordenador do Movimento de Moradia Região Centro (MMRC) Nelson da Cruz Souza conta à repórter Michelle Gomes, no Seu Jornal, da TVT, que a presença dos moradores valorizou o prédio e a região.

“O imóvel está valorizado porque está habitável. Quando a gente entrou aqui, todo mundo tinha medo de passar por essa calçada, porque era deserta. Quando nós ocupamos, a gente deu vida ao bairro, deu vida ao prédio. Hoje está aí o prédio habitável, a calçada transitável”, diz ele. 

Durante a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), foi feito um acordo entre a prefeitura e os proprietários, definindo o edifício como área de interesse social. Iniciou-se, então, o processo de desapropriação, que foi interrompido pela gestão do tucano João Doria, após o laudo de um perito contratado pela Justiça ter avaliado o imóvel em R$ 25 milhões. 

“O perito veio, avaliou o valor do imóvel da calçada, do lado de lá. O pessoal tem até dito que ele não avaliou o prédio, ele avaliou a estação da Luz. Para ele avaliar o prédio, tinha que entrar, tinha que conhecer o prédio, a planta do prédio. Isso não foi feito”, diz Nelson.

Anne Caroline veio para a ocupação Mauá aos 13 anos. Hoje, aos 23, ela mora com os três filhos em um dos apartamentos. Nos últimos meses, o risco do despejo, somado ao desemprego, têm lhe tirado o sossego. 

“Nesses últimos dias, eu nem consigo dormir direito. Quando fiquei sabendo da notícia, nas reuniões, pensei ‘agora vai ser o quê de mim?’. Porque estou desempregada. Para parar um aluguel aí fora é muito complicado, ainda mais com três criança”, relata Anne. 

“Você ter para onde vir, sair e voltar, ter aonde descansar e batalhar pelo seu pão de cada dia, isso se torna digno para a gente, ter nossa própria identidade. Quer dizer, a nossa moradia é a nossa identidade”, ressalta a moradora Maria Elizete Barbosa Souza. 

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