São Paulo – A gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), informou ontem (11) que a placa que viralizou nas redes sociais informando a remoção de uma ciclovia destinada a crianças de até 10 anos com patrocínio da Nike “não é oficial” e que iria “apurar as responsabilidades pela colocação da mensagem e, se necessário, adotará medidas contra quem autorizou a fixação”. No entanto, uma placa idêntica foi utilizada para anunciar a reforma do campo de futebol, que ganhou grama sintética e foi inaugurada com a presença de Doria e vários esportistas ligados à empresa de materiais esportivos.

Na imagem da placa do campo de futebol é possível ver o mesmo símbolo municipal e a mesma composição visual da placa que informa a remoção da ciclovia. A gestão Doria informou que ia retirar a placa da área da ciclovia infantil, alegando que, “além de errada, usa padrões gráficos não mais adotados pela municipalidade”. Porém, a placa anterior ficou no local até a inauguração da reforma.

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

A placa anterior informando da reforma do campo de futebol

O governo Doria decidiu pela remoção de parte da ciclovia infantil para realizar a compensação ambiental pela pavimentação de área do campo de futebol recentemente reformado no Parque do Ibirapuera. A obra, iniciada há dois meses, foi realizada com apoio da Nike. 

Segundo um técnico da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, a empresa não aceitou custear a remoção de todo o trecho. “Pelas normas de preservação do parque, é preciso remover um pavimento de um local para fazer outro novo. Mas a empresa não aceitou pagar a remoção de todo o trecho da ciclovia. Ficou um pedaço de pista no meio das árvores, ligando nada a lugar nenhum”, explicou o servidor. “O campo foi reduzido em aproximadamente quatro metros e recebeu grama sintética para facilitar a manutenção e reduzir custos”, completou.

A área onde estava a ciclovia infantil carecia de manutenção. O pavimento restante está esburacado e remendado. Onde o cimento foi retirado houve a colocação de terra. Não há iluminação. Mesmo assim a RBA encontrou pessoas utilizando a via. Há três anos, o local era utilizado por crianças para aprender a andar de bicicleta. A via fica bem ao lado da ciclovia de uso comum do parque.

“Realmente era bem pouco uso aqui, mas seria melhor manter um espaço para as crianças pequenas. Na ciclovia os jovens e muitos adultos andam depressa, é perigoso”, explicou a analista financeira Thelma Queiroz, frequentadora do parque, quase sempre na companhia do filho Nicolás, de 8 anos. “Com tanto estacionamento por aí, vem retirar uma área para bicicletas? Eu não entendo isso”, protestou.

RBA

Placa que a gestão Doria diz desconhecer a origem

Para o presidente da organização Ibirapuera Conservação, Thobias Furtado, diante da inutilização do trecho, prefeitura e patrocinadora poderiam retirar todo o pavimento e recuperar o bosque. “Não acreditamos que a Nike deixará esses vestígios de concreto e fragmentos da ciclovia para trás. É importante terminar a remoção e revegetar a área, inclusive já ligamos na administração e nos prontificamos a ajudar se for preciso”, explicou.

A situação marca mais um episódio do embate entre a gestão Doria e as ciclovias. Desde o início do ano foram vários trechos removidos em diferentes regiões da cidade. Além disso, a prefeitura diz estar realizando a revisão do plano cicloviário da capital paulista, mas sem a participação das entidades de ciclistas. Uma das via que pode ser removida é a ciclovia da Avenida dos Metalúrgicos, em Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade, usada principalmente por crianças e adolescentes.

A reportagem procurou a prefeitura e a empresa. A Nike informou apenas que apoiou financeiramente a obra, não sendo responsável pela execução do serviço. A obra do campo foi realizada pela Playball. Já a remoção da ciclovia foi realizada pela Topfield. 

A gestão Doria não se manifestou sobre a outra placa. A prefeitura informou ainda que “a ciclovia infantil continuará a existir, mas passará por uma reformulação que praticamente não afetará o seu uso”. No entanto, pela legislação, a reconstrução do pavimento deverá ser compensado com a remoção de outro, na mesma área.