Menos direitos

Estudantes fazem novo ato contra mudança no passe livre e querem diálogo com Doria

No dia mais frio do ano em São Paulo, cerca de mil estudantes protestaram contra a nova regra, que limita o período que os alunos têm para usufruir do transporte público

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A partir de agosto, estudantes terão apenas dois períodos de duas horas para usar o passe livre

São Paulo – Entidades estudantis realizaram ontem (18) à noite o segundo ato em São Paulo contra a mudança nas regras do passe livre, alteradas pelo prefeito João Doria (PSDB) no último dia 8. A partir de 1º de agosto, os estudantes terão apenas dois períodos de duas horas por dia, bem diferente da regra que vigorava até então, que permitia ao estudante da rede pública de ensino fundamental, médio e técnico, de comprovada baixa renda, além de beneficiários do Fies e do ProUni, a realização de até oito viagens diárias gratuitas no transporte público dentro de um período de 24 horas.

O ato desta terça-feira iniciou em dois pontos distintos da Avenida Paulista. Enquanto parte dos estudantes se concentrou, por volta das 17h, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), outro grupo se reuniu na Praça do Ciclista. Duas horas depois, os grupos se encontraram e rumaram juntos em passeata, caminhando pela Avenida 9 de Julho, em direção à sede da prefeitura, no centro da cidade.

“Os estudantes estão aqui para denunciar o retrocesso do passe livre. O prefeito Doria, que se diz trabalhador, coloca a conta da crise no bolso do trabalhador e dos estudantes. O passe livre garante que o estudante possa acessar a escola, os espaços públicos da cidade, atividades extra-classe e o estágio obrigatório”, explica a presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE), Nayara Souza.

Segundo ela, desde o primeiro ato, realizado semana passada, não houve até o momento “nenhum sinal” da Prefeitura de que irá rever a medida. Nayara disse que a intenção dos estudantes agora será estabelecer um diálogo com a Secretaria Municipal de Transportes. Para ela, quando as aulas começarem e os estudantes perceberem na prática a mudança das regras, a mobilização deverá aumentar.

A mesma opinião tem Juliana Corrêa, de 21 anos, estudante de relações internacionais da Universidade Paulista (Unip). Ela acredita que, ao voltar das férias de julho, haverá a conscientização dos estudantes. A partir de então, acredita, será preciso se chegar num consenso.

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Estudante de relações internacionais, Juliana Corrêa diz que é preciso haver diálogo e encontrar um consenso

“Nada é dado, tudo é conquistado. Esperamos que ele possa dialogar com a gente. A gente caminha sempre na direção do diálogo. Queremos que as coisas sejam as melhores pra todo mundo. Não acredito que haja sensibilização, acredito que possa haver consenso de acordo com o que apresentamos aqui”, afirmou. Segundo Juliana, a gestão do prefeito Doria é baseada em ações de marketing, “com diversos personagens e fantasias para se aproximar da vida cotidiana da sociedade”.

“É muito fácil cortar direitos básicos pra investir em propaganda. Tem-se construído um marketing lindo que desenha uma cidade que não existe, enquanto os nossos sonhos são cada vez mais cortados. Dizem que o estudante é o futuro do país, mas ele não tem como ser o futuro se não tiver o presente, e o passe livre está ligado a isso”, explicou.

Agressão

Das 17h, quando os estudantes começaram a se reunir no vão livre do Masp, até por volta das 20h20, quando o grupo caminhava na Avenida 9 de Julho e já se aproximava da sede do Executivo, toda a manifestação transcorreu de modo pacífico.

Enquanto os estudantes gritavam palavras de ordem, um grupo de policias militares caminhava ao lado dos manifestantes, enquanto outro grupo se posicionava bem à frente da passeata e um último ficava na retaguarda. Tanto na frente da passeata, como uma espécie de abre-alas, quanto no fim, duas faixas delimitavam a área em que os estudantes caminhavam. E foi justamente com os alunos que seguravam a faixa na parte de trás da passeata que a única confusão aconteceu.

Segundo relatos de estudantes, alguns policiais começaram a pressionar para que os manifestantes caminhassem mais rápido. Nesse momento, alguns alunos reclamaram da pressão. Com o escudo, um policial empurrou os manifestantes e, nesse momento, uma mulher – não-identificada até então – interveio para tentar conter a situação. Foi quando outro policial surgiu e desferiu um golpe com o cassetete na cabeça da mulher.

Apesar da violência do gesto, a mulher permaneceu em pé por alguns instantes, levou a mão à cabeça e mostrou o sangue escorrendo. Em seguida ela se sentiu mal e caiu no chão. A partir desse momento, a passeata que já se aproximava da Prefeitura foi interrompida. Um principio de tumulto entre os policiais e os manifestantes se armou, mas não evoluiu. A preocupação dos estudantes passou a ser o socorro da mulher que, caída com os olhos semi-abertos, não falava e nem respondia a nenhum estímulo.

Demorou quase uma hora até que a ambulância do Samu, chamada pela própria polícia, socorresse a vítima e a levasse para a Santa Casa.

 

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