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Vereador questiona ação na favela do Moinho um mês após visita de Alckmin ao local

Em audiência pública, Toninho Vespoli (Psol) vê a especulação imobiliária como pano de fundo da ação policial que resultou na morte de um jovem ontem (27)

Facebook do Moinho

Sem dar explicações do motivo da visita, Alckmin esteve na Favela do Moinho no dia 28 de maio

São Paulo – A especulação imobiliária na região da Luz, Campos Elíseos e Praça Princesa Isabel, que seria o pano de fundo das ações violentas das gestões do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), e do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Cracolândia, poderia explicar ainda a invasão da favela do Moinho pela Polícia Militar ontem (27), que resultou no assassinato do jovem Leandro de Souza Santos. A tese foi exposta pelo vereador Toninho Vespoli  (Psol), durante audiência pública na tarde de hoje (28) na Câmara Municipal de São Paulo, para discutir o projeto do prefeito Doria para a Cracolândia, o Redenção.

“Sou matemático e sei que as coisas não acontecem por acaso. Há um mês, o governador esteve na Favela do Moinho sem dar explicações. E a droga da Cracolândia ir parar no Moinho pode ser para justificar uma possível retirada da favela. É preciso saber qual é a relação disso com a especulação imobiliária. Todo mundo sabe da especulação imobiliária naquela área. Não vamos ser hipócritas”, disse o vereador, em questionamento dirigido ao secretário de Justiça de Doria, o advogado Anderson Pomini, único dos secretários convidados que compareceu à audiência.

A referência feita pelo vereador diz respeito a uma visita realizada pelo governador uma semana após a ação policial na região, em 28 de maio. Segundo relato da assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes à época, Alckmin teria conversado com moradores sobre os programas habitacionais que estavam em curso no local.

Vespoli questionou ainda o método que considera equivocado do suposto combate às drogas empreendido pela prefeitura paulistana com apoio do governo estadual. “Todo mundo sabe da justificativa para ir lá e dizer que o jovem era traficante. Mas a gente está vendo um candidato a presidente, o Aécio Neves, que todo mundo já sabe de suas ligações com o tráfico de drogas. A gente sabe do Zezé Perrela e agora um ministro encontra um avião de pequeno porte em sua fazenda”, disse, sob aplausos. “E o pessoal da periferia não tem avião, não tem helicóptero, não tem navio para transportar droga e não tem relação com fiscais do porto para entrar coisas ilícitas nesse país. Então, se foram lá atrás de drogas, foram ao lugar errado. Só que lá estão os pobres e negros desse país.”

Vespoli lembrou ainda que, em conversa com integrantes do Ministério Público estadual, soube que o programa Redenção, que substitui o De Braços Abertos, da gestão Fernando Haddad (PT), era basicamente “policialesco”. “Porém, no debate com entidades, o projeto foi sendo melhor elaborado. Mas, na prática, não mudou nada”.

Singular 

O Redenção teve suas principais diretrizes anunciadas na última segunda-feira. Conforme a prefeitura, o projeto “assistencial singular” prevê o tratamento do paciente em sua integralidade, durante e após desintoxicação, conforme suas especificidades do quadro de dependência, por meio de política de redução de danos e/ou promoção de abstinência.

As diretrizes preveem ainda a criação de uma rede de moradias monitoradas no município e de residências terapêuticas para a continuidade do tratamento. Também serão utilizadas comunidades terapêuticas, em conjunto com o governo do estado, para dar apoio a dependentes químicos desintoxicados e sem outros problemas de saúde associados.

No entanto, o programa foi duramente criticado durante a audiência pública marcada por bate-boca e vaias. De um lado, o secretário Pomini, apoiado por seus assessores, que diversas vezes acusou de “ideológicas” as manifestações contrárias ao Redenção vindas da maioria da plateia, dos vereadores Eduardo Suplicy e Juliana Cardoso, ambos do PT, e de Sâmia Bonfim, do Psol, e dos convidados que criticaram a falta de articulação de políticas sociais no Redenção. Entre eles, o presidente do Conselho Regional de Medicina, Mauro Gomes Aranha, e o coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Carlos Weiss. De outro lado, militantes, ativistas e lideranças sindicais, na plateia, faziam piada dos comentários de Pomini.

 

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