Vereador questiona ação na favela do Moinho um mês após visita de Alckmin ao local
Em audiência pública, Toninho Vespoli (Psol) vê a especulação imobiliária como pano de fundo da ação policial que resultou na morte de um jovem ontem (27)
Publicado 28/06/2017 - 20h01
São Paulo – A especulação imobiliária na região da Luz, Campos Elíseos e Praça Princesa Isabel, que seria o pano de fundo das ações violentas das gestões do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), e do governador Geraldo Alckmin (PSDB) na Cracolândia, poderia explicar ainda a invasão da favela do Moinho pela Polícia Militar ontem (27), que resultou no assassinato do jovem Leandro de Souza Santos. A tese foi exposta pelo vereador Toninho Vespoli (Psol), durante audiência pública na tarde de hoje (28) na Câmara Municipal de São Paulo, para discutir o projeto do prefeito Doria para a Cracolândia, o Redenção.
“Sou matemático e sei que as coisas não acontecem por acaso. Há um mês, o governador esteve na Favela do Moinho sem dar explicações. E a droga da Cracolândia ir parar no Moinho pode ser para justificar uma possível retirada da favela. É preciso saber qual é a relação disso com a especulação imobiliária. Todo mundo sabe da especulação imobiliária naquela área. Não vamos ser hipócritas”, disse o vereador, em questionamento dirigido ao secretário de Justiça de Doria, o advogado Anderson Pomini, único dos secretários convidados que compareceu à audiência.
A referência feita pelo vereador diz respeito a uma visita realizada pelo governador uma semana após a ação policial na região, em 28 de maio. Segundo relato da assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes à época, Alckmin teria conversado com moradores sobre os programas habitacionais que estavam em curso no local.
Vespoli questionou ainda o método que considera equivocado do suposto combate às drogas empreendido pela prefeitura paulistana com apoio do governo estadual. “Todo mundo sabe da justificativa para ir lá e dizer que o jovem era traficante. Mas a gente está vendo um candidato a presidente, o Aécio Neves, que todo mundo já sabe de suas ligações com o tráfico de drogas. A gente sabe do Zezé Perrela e agora um ministro encontra um avião de pequeno porte em sua fazenda”, disse, sob aplausos. “E o pessoal da periferia não tem avião, não tem helicóptero, não tem navio para transportar droga e não tem relação com fiscais do porto para entrar coisas ilícitas nesse país. Então, se foram lá atrás de drogas, foram ao lugar errado. Só que lá estão os pobres e negros desse país.”
Vespoli lembrou ainda que, em conversa com integrantes do Ministério Público estadual, soube que o programa Redenção, que substitui o De Braços Abertos, da gestão Fernando Haddad (PT), era basicamente “policialesco”. “Porém, no debate com entidades, o projeto foi sendo melhor elaborado. Mas, na prática, não mudou nada”.
Singular
O Redenção teve suas principais diretrizes anunciadas na última segunda-feira. Conforme a prefeitura, o projeto “assistencial singular” prevê o tratamento do paciente em sua integralidade, durante e após desintoxicação, conforme suas especificidades do quadro de dependência, por meio de política de redução de danos e/ou promoção de abstinência.
As diretrizes preveem ainda a criação de uma rede de moradias monitoradas no município e de residências terapêuticas para a continuidade do tratamento. Também serão utilizadas comunidades terapêuticas, em conjunto com o governo do estado, para dar apoio a dependentes químicos desintoxicados e sem outros problemas de saúde associados.
No entanto, o programa foi duramente criticado durante a audiência pública marcada por bate-boca e vaias. De um lado, o secretário Pomini, apoiado por seus assessores, que diversas vezes acusou de “ideológicas” as manifestações contrárias ao Redenção vindas da maioria da plateia, dos vereadores Eduardo Suplicy e Juliana Cardoso, ambos do PT, e de Sâmia Bonfim, do Psol, e dos convidados que criticaram a falta de articulação de políticas sociais no Redenção. Entre eles, o presidente do Conselho Regional de Medicina, Mauro Gomes Aranha, e o coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Carlos Weiss. De outro lado, militantes, ativistas e lideranças sindicais, na plateia, faziam piada dos comentários de Pomini.