xenofobia

Palestinos são agredidos e presos em manifestação contra refugiados em São Paulo

Grupos Direita São Paulo e Movimento Brasil Livre (MBL) protestavam na Avenida Paulista contra lei de imigração aprovada no Senado

Brasil de Fato

Momento em que o ativista Hasan Zarif é detido pela PM em São Paulo

São Paulo – Na noite desta terça-feira (2), a Polícia Militar (PM) prendeu ao menos dois palestinos que foram agredidos em uma manifestação antimigratória organizada pelos grupos Direita São Paulo e Movimento Brasil Livre (MBL), na Avenida Paulista, em São Paulo. A PM ainda não fez acusação formal, mas os refugiados ficaram detidos no 78º Distrito Policial por supostamente terem “atirado uma bomba caseira” nos manifestantes. 

A manifestação da direita criticava a nova Lei de Migração, proposta em 2015 pelo então senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), hoje ministro das Relações Exteriores. O projeto, aprovado em 18 de abril pelo Congresso, atualiza o Estatuto do Estrangeiro (lei da ditadura civil-militar que criminaliza uma série de ações praticadas por imigrantes no país), proporcionando mais direitos aos imigrantes

Um dos palestinos detidos é Hasan Zarif, líder do grupo Palestina para [email protected] (Mopat) e dono do espaço cultural Al Janiah, localizado no bairro da Bela Vista (Bexiga), em São Paulo. O outro, identificado como Nur, foi levado a um pronto-socorro com possível fratura no nariz, após agressão dos manifestantes. 

O advogado de Hasan Zarif, Hugo Albuquerque, afirmou que seu cliente relatou que o grupo de manifestantes foram em seu encontro e iniciaram provocações, que terminaram em agressões mútuas. “Houve troca de ofensas e vias de fato”, afirmou.

Segundo a pesquisadora Indra Neiva, que estava presente no momento das agressões, elas foram iniciadas pelos manifestantes da direita. “Eu vi o pessoal do MBL fazendo um protesto criminoso, incitando o discurso de ódio e a xenofobia, o que é crime tipificado. Os palestinos estavam passando pela Avenida Paulista e pararam para ver a manifestação, e então foram xingados e ameaçados. Os manifestantes começaram a gritar ‘Não a islamização, vocês são terroristas’. Um deles empurrou um palestino, foi agressão mútua mas com certeza eles começaram, e só os palestinos foram acusados”, disse.

Dezenas de amigos e apoiadores foram ao 78º DP durante a madrugada, prestando solidariedade aos acusados. Uma das presentes, a síria Sara Ajlyakin, que vive no Brasil há três anos e também integra o Mopat, denunciou a prisão dos palestinos, que considerou uma atitude xenofóbica. “Isso é fascismo, nós estamos aqui querendo paz. Estamos aqui e só queremos viver, sobreviver, somos trabalhadores pobres querendo viver, é isso. Parem de nos criminalizar, é simples.” 

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), que foi relator do PL na Câmara, prestou solidariedade aos imigrantes sírios presos. Segundo ele, a manifestação feita pela extrema-direta, nesta terça, vai contra a lei aprovada, pois “um dos principais avanços do projeto é garantir a não-discriminação do migrante”.

Estamos em 2017 e não é mais concebível que a migração seja tratada como caso de polícia. Isso depõe contra nossa história e vai na contramão de propostas que fomentem o avanço em setores estratégicos para o desenvolvimento do país. A ordem do mundo globalizado é da livre circulação de mercadorias, mas, nessa mesma ordem, deve a haver o direito e garantia da livre circulação de pessoas, sobretudo, a valorização destas”, afirmou o parlamentar através de nota.

Além de liberdade aos imigrantes, ele pode punição aos manifestantes xenófobicos. “Não podemos ficar de braços cruzados assistindo o avanço do fascismo em nosso país. Liberdade para os companheiros presos e a defesa desta legislação humana e moderna para os migrantes é fundamental. Punição rigorosa aos fascistas!”, encerra o texto do deputado.

Assista ao depoimento do advogado de Hasan Zarif nos Jornalistas Livres:

Com informações do Brasil de Fato e Brasil 247.

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