coerência autoritária

Doria nomeia ex-secretária de Alckmin para a pasta de Direitos Humanos

Na pasta estadual da Justiça em 2012, Eloisa Arruda coordenou uma ação, também militarizada, contra frequentadores da Cracolândia, e chegou a dizer que o problema 'não existia mais'

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Eloísa entre os tucanos, governador Alckmin e o senador José Anibal, durante campanha eleitoral de Aécio Neves

São Paulo – A promotora pública Eloisa Arruda é a escolhida do prefeito João Doria (PSDB) para ocupar a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Com histórico de serviços prestados à gestões tucanas, Eloisa é defensora de internações compulsórias para dependentes químicos. A nomeação acontece após a ex-secretária Patrícia Bezerra (PSDB) ter pedido exoneração do cargo na quarta-feira (24), após tecer críticas à ação militarizada de Doria na região da Cracolândia. Desde então, a secretaria vinha sendo ocupada, interinamente, pelo secretário de Relações Institucionais, Milton Flávio.

Em 2012, quando exercia a função de secretária estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), a promotora participara de uma ação contra usuários de drogas na mesma região da Cracolândia. “Não existe mais”, chegou a dizer na ocasião sobre o fluxo de dependentes no local. Hoje, além de existir, a região é alvo central das investidas, amplamente criticadas, de Doria.

“Temos que dar o braço a torcer pela coerência do ‘jestor’ Doria”, afirma a associação Centro de Inclusão Social pela Arte, Cultura, Trabalho e Educação (Cisarte). “Não há nada de ruim que não possa piorar. A nova secretária de Direitos Humanos, entre outras, passou pela Promotoria de Promissão, em Franco da Rocha, em Osasco e na Capital, obtendo destaque no tribunal do Júri (…). Sua passagem pela secretaria da Justiça do Alckmin foi desastrosa. Ela quem impulsionou as internações compulsórias e é de perfil extremamente autoritária e arrogante. Tempos duros virão”, conclui.

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Eloísa comemorando vitória de Doria nas eleições de 2016

O advogado especialista em Direitos Humanos Dimitri Sales, que trabalhou com Eloísa em sua passagem pelo governo Alckmin como coordenador estadual de políticas públicas LGBT, também criticou a escolha de Doria. “Eloísa foi a grande impulsionadora da internação compulsória contra usuários de drogas (…). À época, a ‘Operação Recomeço’, da gestão Alckmin, centrada na adoção desta medida drástica, foi alvo de fortes críticas de diversos setores e instituições, à exemplo do Ministério Público e do Conselho Regional de Medicina. Agora (…) ressurgiram as críticas, aumentando as iniciativas para conter o arroubo infantil e autoritário de Doria”, disse.

Já o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) também se manifestou, via facebook, sobre a nomeação de Eloísa. “Mais uma da série: Mas Doria, a Cracolândia não tinha acabado?”, ironizou. “Eloísa, em 2012, quando ocupou cargo no governo Alckmin, articulou uma ação desastrosa como a do último domingo e também afirmou, à época, que a Cracolândia não existia mais.”

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Eloísa demonstrou apoio ao tucano Aécio Neves durante eleições de 2014

Críticos da ação de Doria apontam que o real motivo das investidas contra a Cracolândia repousa no interesse dos empresários do setor imobiliário. De acordo com informações da própria prefeitura, a intenção é de demolir completamente as residências de dois quarteirões para, posteriormente, entregar à iniciativa privada para a construção de novos imóveis na região, renomeada por Doria, como “Nova Luz”.

“Sem qualquer planejamento, sem um programa real, apenas no discurso de marketing, Doria vem acumulando erros e desastres em relação à questão da Cracolândia”, continua Terixeira. O tema exige diálogo, respeito e capacidade de articulação entre os diversos atores sociais. Capacidade que o prefeito parece não ter, ainda mais quando o assunto não envolve empresários e parcerias”, completa o deputado petista.

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