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Boulos é ‘dispensado’ da Folha de S.Paulo. Renovação ou conservadorismo?

'Frequentemente meus textos tornaram-se objeto da ruminação rançosa. Mas também chegaram em gente que lê com espírito aberto e ajudaram a quebrar preconceitos sobre a luta do movimento popular', diz o líder do MTST

Oswaldo Corneti/Fotos Públicas

Boulos: “A gritaria de desqualificação da luta do movimento acaba dando o tom na maioria do leitorado da Folha, cada vez mais conservador. Sucumbir a esta grita é tentador”

São Paulo – O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos publicou nesta quinta-feira (9) sua última coluna na Folha de S. Paulo, depois de mais dois anos. Ele disse ter recebido ontem um telefonema da direção do jornal, que justificou a medida como um processo rotineiro de renovação de colunistas. Sem desconsiderar a explicação e nem demonstrar surpresa – “Até que durou bastante, muito mais do que esperava” – , o ativista lançou, em texto divulgado em rede social, alguns questionamentos sobre as possíveis motivações.

“Pode ser (a renovação). Porém, até pelo momento em que ocorre, me parece impossível não relacionar o gesto ao acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) na Paulista, com todas as reações de hostilidade que gerou em empresários e associações sediadas naquela avenida”, escreveu Boulos, referindo-se à ocupação encerrada hoje na Avenida Paulista, em São Paulo, depois de 22 dias. 

“A gritaria de desqualificação da luta do movimento acaba dando o tom na maioria do leitorado da Folha, cada vez mais conservador. Sucumbir a esta grita é tentador”, afirmou Boulos. O coordenador do MTST disse nunca ter recuado de suas posições durante o período como colunista. “Devo dizer também que em nenhum momento houve intervenção no conteúdo do que publiquei”, acrescentou.

“Quando decidi aceitar esta coluna, numa decisão tomada junto com meus companheiros de militância, foi pelo esforço de dialogar com um público mais amplo do que aquele que está próximo dos movimentos sociais”, disse Boulos. No início do texto, ele lembrou ter “posições antagônicas às do jornal e, principalmente, uma militância que incomoda a maior parte dos leitores e anunciantes que o mantém”.

O objetivo foi alcançado, avaliou. “Funcionou, para o bem e para o mal. Frequentemente meus textos tornaram-se objeto da ruminação rançosa dos comentadores de internet. É o que sabem fazer. Como disse Criolo, cada um dá o que tem, quem tem ódio dá ódio. Mas os textos também chegaram em gente que lê com espírito aberto e ajudaram a quebrar preconceitos sobre a luta do movimento popular.”

Ele reafirmou a importância do debate público por meio das páginas de opinião. “Tenho o maior respeito e amizade por vários colunistas da Folha. Gente da qualidade de Gregório Duvivier, Vladimir Safatle, Laura Carvalho, André Singer, Juca Kfouri e tantos outros. Nem tantos, na verdade, alguns… (…)  Tenho também grande respeito pelos profissionais jornalistas que trabalham ali.”

Para ele, a Folha fez uma escolha. “Quando um jornal que pretende ser equilibrado toma a decisão de reduzir seu já restrito grupo de colunistas afinados com o pensamento de esquerda e manter um batalhão de colunistas conservadores e de direita, aprofunda sua opção por um certo tipo de público. Sinal dos tempos”, ponderou.

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