Ocupação

Acampamento do MTST na Paulista une alegria, solidariedade e resistência

Em plena temporada de blocos, acampamento de sem-tetos em frente ao prédio onde fica o escritório da Presidência da República em São Paulo sustenta a esperança e exercita cidadania

Cláudia Motta

Adriano (dir) doa semana de folga do caminhão para a coordenação do movimento. Warley e Bella doam cultura e ritmo: a luta é de todos

São Paulo – O acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que ocupa a esquina da Avenida Paulista com Rua augusta desde quarta-feira (15) recebe doações e doa muito. Os alimentos que chegam são preparados em uma tenda muito bem organizada, de onde sai um cheiro gostoso de “comida da mãe”. A refeição é servida ao povo da ocupação e também aos sem-teto que moram nas ruas da região. Os chefs da cozinha se revezam durante as 24 horas do dia. Terminada uma rodada, uma nova já começa a ser preparada.

O caminhoneiro Adriano Ramos, 36 anos, aproveita a semana de folga e participa da coordenação do movimento. Preocupado com a compreensão das pessoas que transitam pelo espaço aberto na larga calçada, Adriano as convida para conhecer o alojamento. Na tenda da cozinha, mostra companheiros em atividade, a ordem e a limpeza do ambiente, precariamente iluminado, conta que todos trabalham, têm suas vidas e seus sonhos. “Estamos aqui por uma causa justa. Só estamos lutando pelo que é direito. E também por um país melhor”, diz.

O acampamento começou depois de um protesto com cerca de 30 mil pessoas contra a exclusão das famílias de renda mais baixa, a chamada Faixa 1, abaixo de R$ 1.900, do atendimento do programa Minha Casa, Minha Vida. Oito em cada dez candidatos a uma moradia popular digna estão nessa faixa. A organização afirma que não vai deixar o local enquanto não houver negociação por parte do governo federal que sinalize para a retomada das contratações do programa.

Cláudia Motta
O aroma tentador sai da cozinha e atrai a fila. O acampamento é um templo de coletividade

A maioria dos que estão ali trabalha e mora longe. Eduardo, 45 anos, é professor de artesanato e vem do Capão Redondo, bairro da zona sul de São Paulo a 25 quilômetros da Avenida Paulista e onde vivem quase 300 mil pessoas. “Venho ajudar a organizar a bagunça”, diz. Os acampados se revezam para manter sempre algumas centenas de pessoas ativas na ocupação. Por volta das 21h da sexta-feira (17), o aroma que sai da tenda alimenta a imaginação de quem está do lado de fora, e a fila para o jantar se forma rapidamente.

Num canto, os mantimentos e utensílios estão arrumados esperando os próximos preparos. Arroz, feijão, macarrão, biscoitos, pães, sucos, leite, água, produtos de higiene e limpeza – tudo é muito bem-vindo. O movimento recebe também outros tipos de doações, como alegria e ideias. Durante a semana passaram por ali para bate-papos visitantes como o ativista Douglas Belchior, a economista Laura carvalho, professora da USP, a pesquisadora Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Vizinha à cozinha, a tenda da solidariedade vende livros, DVDs, bonés do MTST. Uma camiseta lilás com a estampa “Povo sem Medo” no peito sai por R$ 20. Ao lado fica a concorrida barraca da cultura, tomada por uma aula aberta de dança urbana. A dançarina Bella Fernandes, 22 anos, anima meninas, rapazes, senhoras, homens, transgêneros e quem quisesse ensaiar passos de funk, hip hop, samba, na mais perfeita harmonia.

Bella está com o namorado, Warley Alves, produtor e ativista cultural. A ideia é doar o tempo e as aulas de dança e energia à ocupação. “É um jeito de fazer nossa parte para uma causa que é de todos nós. Ou deveria ser”, entoa o casal, muito afinado.

 

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