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Após reintegração em São Mateus, famílias migram para nova ocupação

Sem apoio da prefeitura de São Paulo ou do governo de Geraldo Alckmin, lideranças conseguem garantir abrigo para as famílias da Ocupação Colonial. “Não há mais ninguém na rua”, diz representante

Mídia Ninja

Reintegração foi marcada por forte violência policial. Moradores não puderam retirar pertences de casa

São Paulo – Sem qualquer apoio do prefeito João Doria ou do governo estadual de Geraldo Alckmin, lideranças comunitárias da Ocupação Colonial, em São Mateus, na zona leste de São Paulo, conseguiram encaminhar as 700 famílias despejadas de forma violenta pela Polícia Militar, na terça-feira (17), para algum tipo de abrigo. Os moradores foram para casas de parentes ou para uma nova ocupação no mesmo bairro, em um terreno também particular, que está em processo judicial para reintegração de posse.

Na área, localizada próximo ao terminal Sapopemba e ocupada há 45 dias, viviam 80 famílias até a desocupação desta semana. Hoje já são pelo menos 250 no local. Se no antigo terreno elas já possuíam casa de alvenaria, agora elas se abrigam em baixo de barracas de lona. Os poucos pertences que sobraram após a ação policial estão aglomerados no terreno, protegidos da chuva com plásticos. Há uma cozinha comunitária onde são servidas três refeições, preparadas com mantimentos doados.

“Conseguimos mobilizar todas as pessoas. Nenhum dos moradores da Ocupação Colonial está na rua”, disse uma das representantes das famílias, Roselene Braga. “Nem a prefeitura nem o governo estadual nos ajudaram de forma nenhuma. Por isso estamos fazendo um apelo para quem puder ajudar doando roupas, cobertores e mantimentos para nos procurarem. Os tratores passarem por cima dos pertences das pessoas e muitas perderam o que tinham.”

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Na época, a prefeitura, por meio da Secretaria de Habitação, afirmou que o terreno era particular e que por isso o órgão não tem participação no processo. O órgão não cadastrou as famílias em programas habitacionais do município, mas informou que disponibiliza o cadastramento “através do site da Cohab-SP”.

Uma das moradoras que se mudou para a nova ocupação, ainda sem nome, é Pamela, que ficou na rua com dois filhos de seis e oito anos após a reintegração. “A maioria das pessoas está com as coisas que sobraram jogadas, estamos remontando aos pouquinhos”, diz a moradora, que viveu por um ano e meio na ocupação. Antes disso, ela havia passado 17 anos na rua.

A Justiça de São Paulo decidiu pela reintegração apenas cinco antes dias de executá-la. Os moradores tentaram negociar o adiamento para que as famílias ao menos fossem cadastradas em programas de habitação da prefeitura. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também chegou a entrar com ação pedindo de suspensão da reintegração. Ainda assim, ela foi executada, antes mesmo que a Justiça pudesse julgar o pedido do MP.

A reintegração foi marcada por forte violência policial. Os moradores não tiveram tempo de retirar seus pertences de casa. Com, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha, centenas de policias do batalhão da Tropa de Choque dispersaram os moradores e destruíram barracos de madeira e as casa de alvenaria. Chovia forte no momento e muitas crianças estavam no local. Não havia nenhum representante do poder público presente.

O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, que compareceu ao local para prestar apoio às famílias e tentar negociar uma saída sem conflitos para a ação, foi detido pela polícia sob a alegação de “desobediência”. Ele foi liberado 10h depois. “Foi uma prisão política, evidente. Alegaram incitação à violência. Despejam 700 famílias com violência e eu que incito a violência”, afirmou Boulos.

“Eu ainda não me conformo com o que aconteceu. Eu deito para dormir e fico pensando nisso tudo. Tenho muito medo de sair uma nova reintegração desse terreno e eu voltar para a rua com meus filhos. Qual vai ser o futuro deles? Estamos aqui com o coração na mão sem saber o que pode acontecer”, afirma Pamela, moradora da ocupação.

A reintegração de posse da Ocupação Colonial foi a primeira executada na gestão do prefeito João Doria (PSDB), que afirmou diversas vezes durante campanha eleitoral que não iria tolerar ocupações. “As pessoas ainda estão tentando entrar em órbita depois do ocorrido. Tem gente que não conseguiu dormir ainda. As crianças vêm até mim e perguntam se vão passar de novo por tudo aquilo. Eu não sei o que responder”, diz Roselene, representante das famílias.

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