nenhuma a menos

Assassinato de jovem com taco de beisebol é caso de feminicídio, diz Polícia Civil

Crime ocorreu em bar da zona leste. Testemunhas afirmaram que homem havia chegado no local com Débora Soriano, de 23 anos, e a matou com um golpe na cabeça após estuprá-la

UBM/ Divulgação

No último domingo mulheres se reuniram na Paulista para protestar contra a morte de Débora

São Paulo – O assassinato da jovem Débora Soriano de Melo, de 23 anos, morta no último dia 14 após ser estuprada, é um caso claro de feminicídio, de acordo com a Polícia Civil, que investiga o caso. O crime ocorreu em um bar da Mooca, zona leste de São Paulo. De acordo com a polícia, testemunhas afirmaram que um homem, que havia chegado com Débora no local do crime na noite do dia anterior, matou a jovem ao golpeá-la na cabeça com um taco de beisebol.

O crime foi denunciado no 18º Distrito Policial, no Alto da Mooca, pelo comerciante e dono do bar, Delano Ruiz Liger, de 34 anos. Ele acusou seu primo, Willy Gorayeb Liger, de 27 anos, que era gerente do estabelecimento, como suspeito de ter assassinado Débora. Willy tem histórico de violência sexual contra pelo menos outras duas mulheres. Ele já foi condenado pelo crime estupro e há mandado de prisão em aberto.

Uma das vítimas só denunciou o caso após a foto do acusado ter circulado nas redes sociais, divulgada por grupos feministas. Ela teria sido rouba e estuprada e se fingiu de morta para tentar evitar que fosse assassinada. “É um caso que vai ser tipificado como feminicídio. Ele já tinha um histórico de violência contra a mulher”, diz o investigador Fabiano Gasparoto, um dos responsáveis pelo caso.

Willy está foragido desde a data do crime. De acordo com investigações da polícia, ele deixou ontem (21) o estado de São Paulo e chegou à Bahia onde foi visto com o pai. Por volta das 8h eles fugiram juntos. A polícia suspeita que tenham ido para o município de Barra Grande, onde mora seu irmão. A Polícia Civil de São Paulo está com contato com a polícia da Bahia para iniciar uma investigação na cidade.

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Willy é acusado de assassinar Débora. Polícia pede divulgação da foto para tentar localizá-lo

Evangélica, Débora deixa os pais, dois filhos e amigos. Ela era militante feminista e integrava e movimentos sociais ligados à luta das mulheres em São Paulo, como a União da Juventude Socialista (UJS) e a União Brasileira de Mulheres (UBM). Nascida em Cáceres, no Mato Grosso, ela morava no bairro de Vila Nova Curuçá, na zona leste de São Paulo. Débora estudou Processos Gerenciais na Faculdade Carlos Drummond de Andrade.

Ontem, representantes da Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres estiveram na delegacia para acompanhar militantes da União Brasileira de Mulheres para cobrar respostas rápidas para o caso. “Conversamos com a delegada responsável para enfatizar o crime sexual e o caso de violência contra a mulher. É um crime que precisa ser qualificado como feminicídio e precisa ter um julgamento rápido, porque o histórico do agressor pode elucidar outras situações de violência”, diz a secretária adjunta da pasta, Dulce Xavier.

No último domingo (18) dezenas de mulheres se reuniram na avenida Paulista para protestar contra a morte de Débora. “É um crime praticado com requintes de crueldade por conta de ela ser mulher. Houve crime sexual e assassinato. É importante qualificar o crime como feminicídio porque há ampliação da pena e como crime hediondo”, diz Dulce.

O crime

Segundo a Polícia Civil, Delano, dono do bar, informou que recebeu uma ligação de Willy no último dia 14, por volta das 7h30, afirmando que ia ao bar com duas garotas. Duas horas depois, o dono do bar foi ao local para retirar engradados de cerveja do dia anterior e quando chegou lá, viu Willy, Débora, outra moça e dois homens sentados. Willy o ajudou a colocar os engradados no carro.

Delano pediu que o encontro terminasse. Por volta das 12h, Willy voltou a ligar ao primo dizendo que havia “perdido a cabeça” e matado uma moça dentro do local. O dono do bar disse à polícia que ficou desesperado e começou a pedir para que Willy tentasse salvar a vida da garota, sugerindo que ele fizesse respiração boca a boca. Willy afirmou “de forma calma”, que não adiantava mais pois a garota já estava morta. Ele disse que golpeou Débora na cabeça com um taco de beisebol e pediu que o primo não abrisse o bar para sumir com o corpo da vítima.

Apavorado, Delano foi para sua casa e conversou com sua esposa. Nesse tempo recebeu vários telefonemas de Willy, que pedia para não relatar o caso à polícia. Por volta das 14h, o dono do bar ligou para outro primo, que é policial civil e decidiram acionar um advogado e ir até a delegacia. O boletim de ocorrência foi registrado no 18º distrito policial às 17h23.

Assim que o caso foi comunicado, policiais foram com as testemunhas até o bar. No local havia manchas de sangue entre a saída e o depósito. O corpo de Débora estava na parte debaixo do local, com hematomas nas partes íntimas, rosto e cabeça. Havia fios enrolados em seu pescoço. O corpo de jovem estava sem calcinha e com a saia levantada na altura do quadril. Ela vestia sutiã e estava com a blusa levantada acima do peito. A polícia solicitou exames sexológico, toxicológico e subungueal.

Na cozinha do bar, apoiado na grelha da churrasqueira, havia um bastão preto. A suspeita é de que ele tenha agredido a moça com esse bastão. Escondido embaixo do balcão, atrás de caixas de cerveja, estavam os documentos de Débora, dentro de uma mochila. A polícia quer ouvir os dois rapazes e a outra garota que estavam no bar na manhã daquele dia.

“O Brasil é o quinto país com a maior taxa de feminicídio no mundo. Aqui, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada e a cada uma hora e meia uma mulher é assassinada por um homem. O que acontece hoje é reflexo e herança de toda nossa história, onde a mulher viveu como propriedade e à serviço do homem, permanentemente em papel de inferioridade. O feminicídio é uma questão política e é dever do Estado criar políticas públicas e sociais que priorizem a vida das nossas mulheres, não aceitamos nem uma vida a menos! O machismo mata!”, diz a União Brasileira de Mulheres, em nota publicada na Facebook.

Com informações do coletivo de jornalismo Ponte.

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