'Época de neandertal'

‘Se quisermos ter nação, precisamos ter memória. E memória não é seletiva’

Filha de desaparecido diz que caso Perus vai além da política: 'É questão de Estado'. Ao entrar em centro de análise forense, contou ter pensado não no pai, 'mas na pessoas que estão aqui'

www.hirampereira.com

Hiram Pereira discursa em reunião da Associação de Imprensa de Pernambuco

São Paulo – O potiguar Hiram de Lima Pereira desapareceu em 1975, aos 62 anos. Membro do Comitê Central do PCB, foi jornalista, ator, deputado federal, secretário municipal de Miguel Arraes em Recife. Ontem (28), sua filha mais nova, de um total de quatro mulheres, Hânya Pereira Rêgo, foi à audiência pública que debateu o caso Perus e conheceu o trabalho desenvolvido há mais de dois anos. “Meu sentimento extrapolou a minha condição de filha”, contou. “Quando entrei naquelas salas, eu não entrei pensando ‘Será que papai está aqui?’, mas imaginando quantas pessoas estão aqui.”

Para Hânya, a atuação de familiares e peritos representa a força “para que este país saia de uma época de Neandertal para uma cisão histórica”. A questão, afirmou, vai além da política. “A questão é o Estado brasileiro. Se quisermos ter uma nação, precisamos ter memória. E a memória não é seletiva.”

Ela lamentou que a questão dos desaparecimentos ainda faça parte do cotidiano brasileiro. “Temos de responder às nossas famílias, porque infelizmente o desaparecimento forçado parece estar institucionalizado.”

Filha de David Capistrano da Costa – desaparecido em 1974, aos 60 anos, também dirigente do PCB e, assim como Hiram, deputado federal eleito em 1946 –, Cristina lembrou da dificuldade das famílias à procura de informações sobre desaparecidos, inclusive com denúncias de que eles eram enterrados com outros nomes. “A manutenção da luta das famílias dos desaparecidos em continuar sua busca foi (para) conseguir estabelecer critérios para que as pessoas não sejam enterradas de qualquer forma”, afirmou.