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Em São Paulo, Michael Löwy debate a crise ecológica do capitalismo

Método de produção e consumo capitalista levam ao limite os recursos ambientais. Partindo desta premissa, professor da Universidade de Paris analisa ameaças do capital em oposição a um modelo sustentável: o ecossocialismo

reprodução/cms

Löwy: ‘Rejeitamos todo tipo de eufemismos ou propaganda que suavizem a brutalidade do sistema capitalista’

São Paulo – “O ecossocialismo é uma proposta estratégica que resulta da convergência entre a reflexão ecológica e a reflexão socialista marxista”, define o professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da Universidade de Paris Michael Löwy. O tema será debatido pelo especialista no sábado (5), às 9h30, na Editora Expressão Popular, com sede região central de São Paulo. O seminário “O Capitalismo e a Crise Ecológica: os desafios para a esquerda” é organizado pela Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes (AAENFF).

O professor deve aprofundar o debate sobre uma das pautas mais relevantes da contemporaneidade, que compreende as ameaças exponenciais que o atual modelo de produção e consumo impõem sobre o meio ambiente, bem como a iminência de uma quebra no equilíbrio ecológico mundial, que coloca a civilização humana em risco. Löwy propõe uma crítica não apenas à organização devastadora do consumismo capitalista, mas também a modelos socialistas não ecológicos. Para o pensador, a crise ambiental é severamente mais grave do que qualquer crise econômica por ameaçar a continuidade de nossa espécie.

“Em primeiro lugar, a crítica à ecologia não socialista, capitalista ou reformista, que considera possível reformar o capitalismo. Trata-se da crítica e da busca de superação dessa ecologia limitada que não se relaciona com o processo de luta de classes (…) Mas o ecossocialismo é também uma crítica ao socialismo não ecológico, por exemplo, da União Soviética, onde a perspectiva socialista se perdeu com o processo de burocratização e o resultado foi um processo de industrialização tremendamente destruidor do meio ambiente”, diz o professor.

Löwy redigiu, em conjunto com o professor e ativista do Partido Verde dos Estados Unidos Joel Kovel, o Manifesto Ecossocialista Internacional. Datado de 2001, o documento é uma tentativa de unificar alguns pontos fundamentais da ideologia anticapitalista, antiprodutivista e anticonsumista. A apresentação do manifesto ocorreu em um painel sobre ecologia realizado na cidade francesa de Vincennes. “A sombra mais obscura que se apresenta sobre o presente não é o terror, nem o desastre ambiental, nem a recessão ou a depressão mundial, senão o fatalismo internalizado que afirma não existir outra possibilidade de ordem mundial que não seja a do capital”, afirma o texto.

“O ecossocialismo não é ainda um espectro, tampouco está baseado em partido político ou movimento concreto. É somente uma alínea racional que parte de uma interpretação da crise atual e das condições necessárias para superá-la”, diz o texto fazendo referência ao início de um outro documento, o Manifesto do Partido Comunista (Marx e Engels, 1848). “Um espectro ronda a Europa, o espectro do comunismo”, começa a obra pilar do desenvolvimento da doutrina socialista, que permeou diferentes experiências comunistas pelo mundo.

“Rejeitamos todo tipo de eufemismos ou propaganda que suavizem a brutalidade do sistema (capitalista)”, continua o manifesto assinado por Löwy. “Insistimos em enxergar o capital a partir daquilo que ele realmente fez. Agindo sobre a natureza e seu equilíbrio ecológico, o sistema, com seu imperativo de expansão constante da lucratividade, expõe ecossistemas a poluentes desestabilizadores, fragmenta habitats que evoluíram milhões de anos, dilapida recursos e reduz a vitalidade sensual da natureza às frias trocas necessárias à acumulação de capital.”

Experiência nacional

No Brasil, parte dos partidos progressistas de esquerda possui cartas e manifestos em defesa do ecossocialismo. É o caso do PT, do Psol e do projeto liderado pela deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP), Raiz Cidadanista. “A terra está em um acelerado processo de degradação ambiental imposto pelo capitalismo. Sua lógica insustentável de crescimento, concentração e lucro sem limites, e estímulo ao consumo, amplia as desigualdades, esgota nossos recursos e arruína o meio ambiente”, afirma o Manifesto Cidadanista.

Já o Psol elaborou sua carta ecossocialista em 2011. “Não há dúvidas de que estamos imersos em uma crise ambiental planetária de proporções ainda não vividas pela sociedade humana”, afirma. Ao citar problemas ambientais brasileiros, como a hidrelétrica de Belo Monte e seus efeitos socioculturais nefastos, o partido propõe uma “urgente e necessária construção de um programa ecossocialista como forma de qualificar melhor o debate interno ao partido e sua relação com a sociedade”.

Já o PT possui um extenso e elaborado manifesto ecossocialista, assinado pela Secretaria Nacional de Movimentos Populares do partido. Os pontos estão organizados em 41 tópicos contendo argumentações para a crise ambiental com origem no regime do capital, bem como visões para escapar deste cenário.

Serviço

Seminário: O Capitalismo e a Crise Ecológica: os desafios para a esquerda

Data: 5 de novembro, das 9h30 às 12h30

Local: Editora Expressão Popular, Rua da Abolição, 201, Bela Vista, São Paulo

Para participar, envie o nome completo e o RG para: [email protected]

Com entrevista de Michael Lowy publicada no blog da Editora Boitempo

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